- Verdade, Proximidade, Realidade Viva, Sem Caminhos
Não precisamos procurar a verdade. A verdade não é uma coisa que está muito longe de nós. Ela é a verdade da mente, a verdade das suas atividades, momento a momento. Se estamos cônscios dessa verdade, (…) tal percebimento liberta a consciência ou a energia que é inteligência, amor. Enquanto a mente se servir da consciência como atividade do “eu”, o tempo tem de existir, com todas as suas tribulações, (…) conflitos, (…) malefícios e (…) ilusões (…); só quando a mente, compreendendo esse processo total, cessa de existir, pode haver o amor. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 127)
O que é conhecido não é o Real. Nosso pensamento está ocupado numa constante busca de segurança, de certeza. A inteligência que promove a expansão do “ego” busca, por força de sua própria natureza, um refúgio, seja pela negação seja pela afirmação. (…) Podeis ler sobre o Real, o que é de lamentar, podeis palrar a seu respeito, o que é desperdício de tempo, mas não é isso o Real. Quando dizeis que, pensando na verdade, estais mais capacitados para solucionar vossos problemas e sofrimentos, significa isso que vos estais servindo de uma suposta verdade, (…); como (…) qualquer entorpecente, não tarda a resultar, daí, o sono e a insensibilidade. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 264-265)
O importante, pois, é que se compreenda por que razão a mente está sujeita a ser perturbada. Que é esta perturbação? (…) Sem começarmos com o que está perto, queremos chegar longe; mas só podemos ir longe, se começarmos com o que está muito perto de nós. E começar com o que está perto significa estar livre da ambição, do desejo de ser algo, do desejo de ser bem sucedido na vida, célebre, famoso (…), tudo isso denunciando o “eu”, o “ego”. (Viver sem Temor, pág. 58)
A compreensão do conflito, pois, na vida de relação, é de importância primacial, (…). Como podemos conhecer o que está perto de nós, quando desconhecemos nossa própria esposa? Positivamente, precisamos começar com o que está perto, para alcançar o que está longe; (…). (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 51-52)
Nessas condições, para compreendermos aquilo que representa o mais alto, o supremo, o real, precisamos começar muito de baixo, muito perto de nós; isto é, precisamos averiguar o valor das coisas, das relações e das idéias com que nos ocupamos cada dia. (Novo Acesso à Vida, pág. 14)
E sem compreendê-las, como pode a mente buscar a realidade? Pode inventar a “realidade”, pode copiar, pode imitar; tendo lido muitos livros, pode repetir a experiência alheia. Mas isso, por certo, não é o real. Para experimentar o real, a mente deve deixar de criar; porque tudo o que ela criar (…), estará sempre subordinado ao tempo, (…). (Idem, pág. 14)
(…) Para chegar longe, precisamos começar com o que está perto. Isso não requer nenhuma renúncia extraordinária, mas um estado de elevada sensibilidade; (…) e só nesse estado de sensibilidade pode-se receber a verdade – a qual não é para os insensíveis, os indolentes, os desatentos. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 28-29)
Mas o homem que começa com o que está perto, que está cônscio dos seus gestos, sua fala, sua maneira de comer, de falar, sua conduta – para este há a sensibilidade de penetrar muito extensamente, muito amplamente nas causas do conflito. (Idem, pág. 29)
Não podeis subir muito se não começais por baixo: não quereis ser simples, não quereis ser humildes. (…) Assim, um homem que realmente desejasse achar, conhecer a verdade, (…) estar aberto para a verdade, teria de começar muito perto de si, deveria avivar a própria sensibilidade, mediante vigilância, tornando sua mente apurada, clara e simples. Uma mente assim não anda em busca dos seus próprios desejos. (…). Só assim é possível a paz; porque essa mente descobre o imensurável. (Idem, pág. 29)
A verdade não pode ser acumulada. O que se acumula é sempre destruído, (…). A verdade nunca fenece, porque só pode ser encontrada de momento a momento, em cada pensamento, cada relação, cada palavra, cada gesto, num sorriso, numa lágrima. E se vós e eu pudermos achá-la, e vivê-la – o próprio viver é o descobrimento dela – não seremos então propagandistas, mas entes humanos criadores; (…). (Poder e Realização, pág. 42)
(…) A verdade não é acumulativa. Ela está presente momento a momento. O que é acumulativo (…) é a memória, e pela memória nunca se pode achar a verdade; porque a memória é produto do tempo (…). O que tem duração não é eterno. A eternidade está no agora. (…) (O que te fará Feliz? pág. 129)
A mente desejosa de transformação futura (…) nunca poderá achar a verdade. Porque a verdade é uma coisa que deve vir momento a momento; que precisa ser descoberta de novo; (…). Como é possível descobrirdes o que é novo, com a carga do velho? É só pelo desaparecimento dessa carga que se descobre o novo. (…) (Idem, pág. 129)
(…) A verdade não é abstrata. Ela nos vem súbita, às escuras, e por isso a mente não a pode reter. Como um ladrão, nas sombras da noite, ela vem às escuras, e não quando nos preparamos para recebê-la. (…) Assim, pois, uma mente que está presa na rede de palavras, não pode compreender a verdade. (Idem, pág. 108)
(…) Não vos choqueis, não vos sintais desapontados – a verdade nem sempre é aprazível. A verdade é rude para aqueles que não compreendem, mas a verdade é amável, delicada, generosa e encantadora para aqueles que compreendem. (…) (Que o Entendimento seja Lei, pág. 4)
A verdade só pode vir a vós quando vossa mente e coração são simples e claros, e existe amor no vosso coração, e não se vosso coração está cheio das coisas da mente. (…) E ela só pode vir quando a mente está vazia, quando a mente desiste de criar. Ela virá, então, sem a chamardes. Virá veloz como o vento, sem ser pressentida. A verdade vem no escuro e não quando estamos à sua espreita, desejando-a. Ela surge súbita como a luz do sol, pura como a noite, mas, para a receber, deve o coração estar cheio e a mente, vazia. (…) (O que te fará Feliz?, pág. 79)
A verdade não tem continuidade, porque está além do tempo; e o que tem continuidade não é a Verdade. A Verdade é para ser percebida instantaneamente, e esquecida – “esquecida”, no sentido de que não a levamos conosco como lembrança da Verdade que foi percebida. E porque vossa mente está livre da memória, a qualquer instante (…) a Verdade reaparecerá. (Experimente um Novo Caminho, pág. 107)
(…) Só existe a verdade quando estais livres da dor, da ansiedade, da agressividade que ora vos enchem a mente e o coração. Ao perceberdes tudo isso e alcançardes aquela bênção chamada amor, conhecereis então a verdade do que se está dizendo. (A Outra Margem do Caminho, pág. 13)
Ora, a verdade tem um lugar permanente? A verdade ocupa um ponto fixo? A verdade tem morada, ou é uma coisa dinâmica, viva, e portanto sem pouso certo? A verdade está em movimento constante; mas se dizeis que ela é um ponto fixo, tereis então de achar um guru que vos leve a esse ponto, e o guru se tornará necessário para vos apontar o caminho. (…) (A Arte da Libertação, pág. 121)
(…) Por outras palavras, quando procurais o guru não estais em busca a verdade, buscais segurança num nível diferente, (…). Mas é a verdade permanência? Não sabeis, (…). Mas não ousais declarar que não sabeis, porque o reconhecer que não sabemos é uma experiência verdadeiramente devastadora. (Idem, pág. 123)
Mas, sem dúvida, tendes de sofrer uma devastação antes de descobrirdes a verdade; precisais achar-vos naquele estado de incerteza, de total frustração, sem possibilidade de fuga; tendes de ser posto frente a frente com o vácuo, o vazio, sem nenhuma passagem por onde fugir. Só então achareis o que é verdade. Mas especular sobre a verdade, pensar na verdade, é negar a verdade. (Idem, p. 123)
Vossos pensamentos e especulações a respeito da verdade não têm validade. Toda idéia é produto do pensamento, e o pensamento é memória (…) Assim, para o homem que busca a verdade, o guru é inteiramente desnecessário. A verdade não está longe, a verdade está muito perto, naquilo que pensais e sentis, em vossas relações com vossa família, vosso vizinho, com a propriedade e as idéias. (Idem, pág. 123)
Procurar a verdade em alguma esfera abstrata é pura ideação, e a maioria de nós procura a verdade por essa maneira, como um meio de fugir à vida. A vida nos esmaga, é sobremodo exigente e dolorosa, (…). Conseqüentemente, procuramos um guru para nos ajudar a fugir; (…) a ele nos apegamos. (Idem, pág. 123)
A realidade não é algo abstrato ou teórico, (…) a realidade está na compreensão da vida de relação, no estarmos cônscios, a todos os momentos, do nosso falar, da nossa conduta, da maneira como tratamos as pessoas, (…) como consideramos os outros; porque a conduta correta significa virtude, e aí se encontra a realidade. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 150-151)
(…) A verdade é uma coisa viva, e para uma coisa viva não há nenhum caminho – só para as coisas mortas pode haver um caminho. Porque a verdade não tem caminho, para a descobrirdes tendes de ser aventuroso, estar pronto para o perigo; e pensais que um guru vos ajudará a ser aventuroso, a viver no perigo? Se procurais um guru, é porque não sois aventuroso, estais apenas à procura (…) de segurança. (…) (A Arte da Libertação, pág. 123-124)
(…) Essa realidade é um ser eterno no presente, e não no futuro; ela está no agora imediato, não no futuro remoto. Para compreender esse agora, essa eternidade, a mente deve estar livre do tempo, o pensamento deve cessar. Todavia, tudo que estais fazendo atualmente só serve para cultivar o pensamento, condicionar a mente, e por isso nunca há para vós o novo, (…). (Idem, pág. 124)
Enquanto existe o processo de pensamento, não pode existir a verdade (…). Não podeis criar tranqüilidade à força, (…) tornar a mente serena, (…) forçar o pensamento a parar. Cumpre-nos compreender o processo do pensamento e transcender o pensamento; só então a verdade libertará o pensamento de seu próprio processo. (Idem, pág. 124)
Nasce a verdade quando a mente está de todo tranqüila, numa tranqüilidade não artificial, não “feita”; surge essa tranqüilidade só quando há compreensão; e essa compreensão não é difícil, mas exige toda a vossa atenção. É negada a atenção quando viveis apenas no cérebro, e não com todo o vosso ser. (Idem, pág. 125)
A verdade, portanto, não é para as pessoas respeitáveis, nem para os que desejam a expansão, o preenchimento do seu próprio “eu”. A verdade não é para os que buscam segurança e permanência; porque a permanência que buscam é meramente o oposto da impermanência. Presos que estão na rede do tempo, buscam aquilo que é permanente; (…) Por conseguinte, o homem que deseja descobrir a realidade tem de sustar a busca – o que não significa que deva contentar-se com o que é. (Idem, pág. 214)
Pelo contrário, um homem que está todo empenhado no descobrimento da verdade deve ser, interiormente, um revolucionário completo. Não pode pertencer a nenhuma classe, nação, grupo ou ideologia, (…); (…) a verdade não pode ser encontrada nas coisas feitas pela mão ou pela mente. (…) (Idem, pág. 125)
A verdade vem a todo aquele que está livre do tempo, que não se está servindo do tempo como meio de auto-expansão. O tempo significa memória, (…). Enquanto existe o “ego”, o eu”, o “meu”, em qualquer nível (…), ele está sempre dentro da esfera do pensamento. Onde está o pensamento está o oposto, porque o pensamento cria o oposto; e enquanto existe o oposto não pode existir a verdade. (…) (Idem, pág. 125)
Existe um caminho que leva ao desconhecido? Há sempre caminho para o conhecido, mas nunca para o desconhecido. (…) (Poder e Realização, pág. 93)
Se a Realidade é o conhecido – assim como nossa casa, cujo caminho conhecemos – então a coisa é muito simples: podeis abrir um caminho para lá. Podeis ter então uma disciplina, (…) várias formas de yoga, (…), a fim de não vos desviardes do alvo. (…) (Idem, pág. 93)
(…) Mas a Realidade é algo que se conhece? E se a conhecemos, isso é o Real? Por certo, a Realidade é algo que se manifesta momento a momento, e que só se pode encontrar no silêncio da mente. Não há caminho para a verdade (…), porque a Realidade é o incognoscível, o inominável, o impensável. (…) (Poder e Realização, pág. 93)
(…) O que podeis pensar a respeito da verdade é produto de vosso fundo mental, vossa tradição, vosso saber. Mas a verdade nada tem em comum com o saber, (…) a memória, (…) a experiência. Se a mente pode criar um Deus – como de fato cria – isso por certo não é Deus, (…). (Idem, pág. 93-94)
Não há caminho para a Verdade. A Verdade tem de ser descoberta, mas nenhuma fórmula existe para o seu descobrimento. O que é formulado não é verdadeiro. Tendes de lançar-vos ao mar desconhecido, e este mar desconhecido sois vós mesmos. Tendes de pôr-vos a caminho, para o descobrimento de vós mesmos, mas não de acordo com algum plano ou padrão, (…). O descobrimento traz alegria – não a alegria que é lembrada, que é comparada, mas a alegria que é sempre nova. O autoconhecimento é o começo da sabedoria, em cuja tranqüilidade e silêncio se encontra o Imensurável. (Comentários sobre o Viver, pág. 95)
(…) A mente limitada, ainda a mais instruída e apta a discutir eruditamente, é incapaz de buscar algo totalmente novo. O que pode fazer é apenas “projetar” suas próprias idéias ou provocar um estado “devocional” ou estático. Estamos, portanto, entrando num mar desconhecido, e cada um tem de ser seu próprio capitão, piloto e marujo. (…) Não há guia, e esta é a beleza da existência. (…) Essa viagem é um “processo” de autoconhecimento (…) (O Homem Livre, pág. 95)
Para descobrir a verdade, não há caminho algum. Tendes de entrar no mar desconhecido – o que não é desanimador nem empresa aventurosa. Quando desejais achar algo de novo, quando estais investigando (…), vossa mente tem de estar muito tranqüila (…). Se a mente está repleta de fatos, de saber, eles atuam como empecilhos ao que é novo. A dificuldade está em que, para a maioria de nós, o saber se tornou tão importante, de significação tão preeminente, que está sempre intervindo em tudo o que é novo, (…). Assim, o saber e a cultura são empecilhos, para aqueles que desejam investigar, (…) compreender o que é atemporal. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 153)
Mas a verdade é uma realidade que não pode ser compreendida seguindo-se um caminho. A verdade não é um condicionamento, uma modelagem da mente e do coração, mas um preenchimento constante, (…) na ação. O inquirirdes sobre a verdade implica que acreditais em um caminho para a verdade, e esta é a primeira ilusão a que estais presos. Nisso há imitação, deformação. (…) Digo que cada um deve descobrir por si próprio o que é a verdade, mas isso não significa que cada um deva delinear um caminho para si próprio, (…) (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 111-112)
A verdade se encontra no mar – do qual não existe mapa – do autoconhecimento. (…) Ansiamos a segurança e esse anseio é um obstáculo à nossa libertação pelo conhecimento da verdade. Os que se aprofundaram no autoconhecimento são flexíveis. Sabemos que uma das causas da resistência é a especialização; e outra causa é a imitação. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 221)
É só quando o pensamento está libertado dos valores materiais criados pela mão ou pela mente, que nos é dada a visão da verdade. Não há senda conducente à Verdade. Tendes de navegar por mares sem roteiros para a encontrardes. A realidade não pode ser comunicada a outro; porquanto, o que se comunica é o que já se sabe, e o que é sabido não é o Real. (…) (O Caminho da Vida, pág. 10)
Sinto que ninguém pode guiar outrem à verdade, porque a verdade é infinita; é uma terra sem caminhos, e ninguém pode dizer-vos como encontrá-la. Ninguém pode ensinar-vos a ser artista; alguém poderá apenas dar-vos os pincéis e a tela e mostrar-vos as cores a usar. (…) Só quando estais absolutamente desnudo, livre de todas as técnicas, livre de todos os instrutores, é que descobris. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 42)
(…) Precisais buscar a verdade por vós mesmos, como indivíduos, visto que ela mora em vós, não no exterior. Quando o indivíduo se houver compreendido a si mesmo, viverá num ambiente de perfeita harmonia e não contribuirá para a desordem do mundo. (Coletânea de Palestras, 1930-1934, pág. 22)
Pergunta: Vós alcançastes a Realidade. Podeis dizer-nos o que é Deus?
Krishnamurti: Senhores, como sabeis que alcancei a Realidade? Para o saberdes seria necessário que tivésseis também alcançado a Realidade. (…) E que importância tem compreender a Realidade alcançada por outro homem, (…) conhecer esse homem? (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 114)
Ora bem, quereis que eu vos diga o que é a Realidade. Mas pode o indescritível ser expresso em palavras? Pode-se medir o imensurável? Pode-se aprisionar o vento numa mão fechada? (…) No momento em que traduzis o incognoscível no que conheceis, não é mais o incognoscível o que traduzistes (…) (Idem, pág. 116)
(…) Conseqüentemente, em vez de procurardes aquele homem que alcançou a Realidade, ou perguntardes o que é Deus, por que não aplicais toda a vossa atenção à percepção do “que é”? Encontrareis, então, o desconhecido, ou, antes, o desconhecido virá ao vosso encontro. (…) (Idem, pág. 117)
(…) Não pode a realidade manifestar-se àquele que quer “vir a ser”, àquele que luta; ela só pode manifestar-se àquele em que há o “ser” (…) que compreende o “que é”. Assim como a solução de um problema está contida no próprio problema, assim também a realidade está contida no “que é”, e se formos capazes de compreender o “que é”, compreenderemos a Verdade. (…) (Idem, pág. 117)
(…) Assim, pois, não está longe de nós a Realidade, mas nós a distanciamos, (…). A Realidade está presente aqui, neste momento, (…) ao nosso alcance. O eterno, o atemporal existe agora, e não pode o agora ser compreendido por aquele que está preso na rede o tempo. (…) Essa libertação só é possível mediante meditação correta, que significa ação completa. (…) (Idem, pág. 117)