Em virtude da grande amizade e confiança de Krishnamurti em relação às duas Senhoras, ele sempre lhes escrevia relatando acontecimentos íntimos. Sabia também que elas tudo registravam num Diário, para objetivos póstumos.
Além disso, receberam as informações reunidas pelo Sr. Shiva Rao, antigo membro do Parlamento indiano, que, igualmente, por longo tempo, convivera com J. Krishnamurti. Pretendia escrever a biografia dele, mas faleceu antes de cumprir seu intuito.
Com a morte da Sra. Emily Lutyens, coube à sua filha, Mary Lutyens, escrever as obras intituladas: “Krishnamurti – The Years of Awakening” (Os Anos do Despertar); “Krishnamurti – The Years of Fulfilment (Os Anos de Plenitude) e “Krishnamurti – The Open Door (A Porta Aberta).
No livro Palestras em Auckland, 1934″, diz Krishnamurti: (…) E vós vos tendes preparado (…) e não importa que eu seja o Instrutor ou não. Ninguém vô-lo pode dizer, (…) porque nenhuma outra pessoa pode sabê-lo, exceto eu próprio; e, mesmo assim, eu vos digo que isso não importa. Jamais contradisse isso, apenas digo: deixai isso de parte”. (…) (pág. 101-102)
Em “A Fonte da Sabedoria” (Palestras em Eerde, Acampamento de Ommen, Holanda, de 1926-1928), sob o epígrafe “Quem traz a Verdade”, revela Krishnamurti os encontros que teve em sua ascensão espiritual:
Quando, no entanto, eu era rapazinho, costumava ver Shri Krishna (…) tal como é desenhado pelos hindus, pois minha mãe era devota de Shri Krishna. (…) Quando, crescendo em idade, encontrei o Bispo Leadbeater e a Sociedade Teosófica, comecei a ver o Mestre K.H. e, desde então, o Mestre K.H. era para mim a finalidade.
Segue: Mais tarde ainda, e à medida que ia crescendo, comecei a ver o Senhor Maitreya (nome do Senhor Cristo na Índia). Foi isto há dois anos e via-O constantemente na forma que perante mim era colocada. (pág. 57)
Faço-vos esta narrativa, não para obter autoridade nem criar uma crença, (…). Foi para mim uma luta constante encontrar a verdade, pois não me sentia satisfeito com a autoridade de outrem. Quis por mim próprio descobrir e, naturalmente, tive de passar por sofrimentos para achar o que buscava. (pág. 57)
Ultimamente tem sido o Senhor Buddha a quem tenho visto e tem sido meu deleite e minha glória o estar com Ele. (pág. 57)
Tem-me sido perguntado o que entendo pelo “Bem Amado”. Dar-vos-ei um significado, uma explicação que interpretareis como vos aprouver. Para mim, é tudo – é Shri Krishna, é o Mestre K.H., é o Senhor Maitreya, é o Buddha e, no entanto, está para além de todas essas formas. (pág. 57)
Que importa o nome que Lhe derdes? Lutais pelo Instrutor do Mundo, por um nome? O mundo nada sabe acerca do Instrutor; alguns dentre nós, individualmente, sabem: alguns acreditam por autoridade; outros têm sua própria experiência e conhecimento próprio.(…) (pág. 57)
Disse a mim próprio: enquanto não me unificar com todos os Instrutores, que eles sejam os mesmos é coisa que não tem importância, se Shri Krishna, Cristo, o Senhor Maitreya são uma só pessoa, é coisa também sem grande consequência. (pág. 58)
Disse a mim mesmo: enquanto eu os vir no exterior, como em um quadro, uma coisa objetiva, estou separado, estou afastado do centro; quando, porém, tiver a capacidade, a força, quando tiver determinação, quando estiver purificado e enobrecido, então essa barreira, essa separação desaparecerá. Não fiquei satisfeito enquanto esta barreira não foi despedaçada, a separação não foi destruída. (…) (pág. 58)
Falei de vagas generalidades, que todos precisavam ouvir. Nunca disse: Eu sou o Instrutor do Mundo; agora, porém, que sinto que sou uno com o Bem Amado, eu o digo, não a fim de vos impor minha autoridade, ou para vos convencer de minha grandeza ou da grandeza do Instrutor do Mundo, nem mesmo da beleza da vida ou da simplicidade da vida, mas simplesmente para despertar o desejo em vossos corações e em vossas mentes de buscardes a Verdade. (…) (pág. 58-59)
Daí estar eu capacitado para vos dizer que sou uno com o Bem Amado – quer o interpreteis como sendo o Buddha, o Senhor Maitreya, Shri Krishna, o Cristo, ou qualquer outro nome. (pág. 59)
No panfleto “Que o Entendimento Seja Lei” (conferência em Eerde, Ommen, Holanda, 1928) diz:
“Repito que não tenho discípulos. Cada um de vós é discípulo da Verdade, desde que compreenda a Verdade e não se ponha a seguir outros indivíduos. Não tenho seguidores.
“Espero que não considereis a vós mesmos como meus seguidores, porque, se o fizerdes, estareis pervertendo e traindo a Verdade que eu defendo. (…) (pág. 4)
(…) Não há compreensão no culto das personalidades. Os rótulos que adorais carecem de significação. (…) A Verdade transcende todas as graduações, porquanto essas graduações só existem por causa das limitações humanas. (pág. 5)
(…) Eu sei o que sou; sei qual é a minha finalidade na Vida, porque sou a própria Vida, sem nome, nem limitação.
E porque sou a Vida, desejo instar-vos a adorar essa vida, não na forma que é Krishnamurti, porém a vida que reside dentro de cada um de nós. (…)” (pág. 16)
Em outro opúsculo “A Finalidade da Vida” (Conferência em Eerde, Ommen, Holanda, 1928): “Não desejo que me rendais culto; não desejo que acrediteis no que digo; não desejo que façais de mim um santuário para vosso refúgio; (…) Porque o que vedes de mim, esta personalidade, este corpo, é coisa irreal, sujeita ao declínio perecível.” (…) (pág. 19)
Também em “A Arte da Libertação: “Pergunta: Não sois vós mesmo um guru?” Resposta: Podeis fazer de mim um guru, mas eu não o sou. Não quero ser guru, pela simples razão de que não há caminho para a verdade. (…) A verdade é uma coisa viva, e para uma coisa viva não há nenhum caminho. (…) Porque a verdade não tem caminho, para a descobrirdes tendes de ser aventuroso, estar pronto para o perigo; e pensais que um guru vos ajudará a ser aventuroso, a viver no perigo? (…) (pág. 123-124)
Entrevista de Krishnamurti em Londres, 20-06-1928 (Boletim Internacional da Estrela, de agosto de 1928): “Senhor, eu o tenho dito (…) Krishnamurti, como tal, não mais existe. Assim como o rio entra no oceano e nele se perde, assim Krishnamurti entrou naquela vida (…). Assim (…) entrou nesse Oceano da Vida e é o Instrutor, pois no momento em que se entra nessa Vida – que é cumprimento de todos os Instrutores – o indivíduo como tal cessa de existir”. (pág. 20-21)
De novo, em “Que o Entendimento seja Lei”: “Pergunta: Sois o Cristo de volta ao mundo? – Resposta: Amigo, quem julgais que eu sou? (…) Não estais interessado na Verdade; estais interessado no vaso que contém a verdade (…). Eu vos digo que possuo essa água pura; possuo o bálsamo que purifica e que cura soberanamente. E me perguntais: Quem sois? – Eu sou todas as coisas – porque sou a Vida.” (pág. 21-22)
Igualmente, em “Palestras em Auckland, 1934” – “Pergunta: Sois o Messias?
Krishnamurti: Tem isso grande importância? Esta é (…) uma das perguntas que me têm sido feitas por toda parte (…). Ora, eu jamais neguei ou afirmei ser o Messias, o Cristo que voltou; (…) Ninguém vô-lo pode dizer. Mesmo que eu o dissesse, isso seria (…) destituído de valor (…). (Palestras em Auckland, 1934, pág. 120)
Continua: “Assim, pois, (…) esforçai-vos para averiguar se o que estou dizendo é verdadeiro; (…) desembaraçar-vos-eis de toda autoridade, (…). Para os seres humanos realmente criadores, inteligentes, não pode haver autoridade. (…)” (Idem, pág. 121)
Da mesma forma, em “Novo Acesso à Vida”: “Pergunta: Como pretendeis justificar (…) que sois o Instrutor do Mundo?
Resposta: Não tenho interesse algum em justificá-lo. Não é o rótulo que importa, Senhores. O grau, o título não tem importância alguma: o que tem importância é o que sois.
Rasgai o título, pois, jogai-o na cesta de papéis, queimai-o, destruí-o, livrai-vos dele. (…)
Senhores, os títulos, sejam títulos espirituais, sejam títulos mundanos, são meios de explorar os outros. (…)” (pág. 45)
E ainda, em “Uma Nova Maneira de Viver”: “Pergunta: A S.T. anunciou que vós sois o Messias e o Instrutor do Mundo. Por que deixastes a S.T. e renunciastes ao título de Messias?
Krishnamurti: Agora, com relação ao título de Messias, a questão é muito mais simples. Eu nunca o neguei, e acho que não tem muita importância se o fiz ou não. O que para vós deve importar é se o que digo é ou não a verdade.”
Segue: “Portanto, não vos deixeis levar pelo rótulo, (…). Se eu sou o Instrutor do Mundo ou o Messias, ou o quer que seja, isso não tem importância nenhuma. Se o achais importante, perdereis então a verdade do que estou dizendo, porque estais julgando pelo rótulo. (…) Um dirá que sou o Messias, outro dirá que não sou, e onde ficais? (…)” (pág. 149)
Por fim, em “Palestras na Itália e Noruega”, 1933. “Pergunta: Foi dito que sois a manifestação do Cristo em nossos dias. Que tendes a dizer sobre isto?
Krishnamurti: Meus amigos, por que fazeis semelhante pergunta? (…) Perguntais porque quereis (…) julgar o que digo de conformidade com o padrão que possuís. (…) Isto é de mui pequena importância e, além disso, como poderíeis saber o que sou ou quem sou, mesmo que eu vô-lo dissesse? (…)” (pág. 66)
Continua: “Desejais saber quem sou em virtude de estardes incertos (…). Não estou afirmando ser ou não o Cristo. (…) para mim a pergunta carece de importância. O que é importante é saberdes se o que digo é verdadeiro; ( … )” (pág. 66-67)
Segundo informações constantes da obra “Krishnamurti – Os Anos do Despertar”, de Mary Lutyens (Ed. Cultrix, S.Paulo, 1978), teria o Mestre Universal começado a manifestar-se em Krishnamurti por ocasião de reuniões importantes, com a presença de grande público, nos anos de 1925, 1926, 1927. (pág. 226, 227, 242, 278, 280).
À página 221, inicia a autora o capítulo “A Primeira Manifestação”. Trata do Congresso da Estrela, na Índia, que teve lugar em Adyar, Índia, em 28-12-1925. (No artigo “Uma Explicação”, de Annie Besant, publicado em “O Teosofista” nº 155, de março de 1927, são confirmados os aparecimentos acima, e é informado que o Congresso da Estrela, de 1925, teve a presença de 7.000 pessoas).
No certame, estava Krishnamurti no final do discurso quando, referindo-se ao Mestre universal, disse:
“Ele só vem para os que querem, que desejam, que anseiam (…)”; e, de súbito, sua voz se modificou completamente e soou: “Eu venho para os que querem simpatia, os que desejam felicidade, os que anseiam libertar-se (…). Venho para reformar e não para destruir, não venho demolir, senão construir.”
Registra Mary Lutyens que muitos notaram não só a alteração para a primeira pessoa, como uma diferença de voz. A Sra. Annie Besant, Leadbeater e Raja (Jinarâjadâsa) tiveram perfeita consciência da mudança. Na reunião final do congresso, teria a Sra. Besant declarado:
“(…) Este acontecimento (de 28 de dezembro) marcou a consagração definitiva do veículo escolhido (…) a aceitação final do corpo eleito há muito tempo (…). O advento começou (…)” (pág. 226-227)
Igualmente, no livro “Krishnamurti – Los Años de Plenitud” (Ed. Edhasa, Barcelona, 1984) se lê que, em 1927, escrevia Krishnamurti ao Sr. C.W. Leadbeater: “Eu conheço meu destino e meu trabalho. Sei com certeza, e com meu próprio conhecimento, que me estou fundindo na consciência do Mestre, e que Ele há de encher plenamente meu ser”. (pág. 14)
Nessa mesma fonte (“Los Años de Plenitud”) consta que a Sra. Besant, então acompanhada de Krishnamurti, teria feito declaração à Imprensa, nos E.U.A, assim concluindo:
“O Instrutor do Mundo está aqui” (pág. 14). Nas páginas 3, 12, 15, 249 desse livro, é repetida a 1ª manifestação do Instrutor universal em 28-12-1925, e outras em 1926 e 1927.
Ambas as obras acima fazem constantes referências a um “processo” de adaptação física, psíquica e espiritual, a que teria estado submetido Krishnamurti durante toda a sua vida. “Os Anos do Despertar”, pág. 169, 174-191; “Los Años de Plenitud”, pág. 8, 36, 37, 73, 119, 121-126, 150, 184, 255. O “processo” consta igualmente do “Diário” de Krishnamurti, vol. I e II.
Em algumas sessões do “processo”, e mesmo em outras ocasiões, foi revelada a presença, quer dos Senhores Maitreya e Buddha, quer do Mestre K.H. Dos textos, deduz-se que o processo tinha como objetivo não só a evolução individual de Krishnamurti, como a adaptação de seus veículos para a fusão de sua consciência com a do Senhor.
Verifica-se isso também em: “Os Anos do Despertar”, pág. 48, 160-167, 179-181, 189, 196-197, 209, 225-227, 242, 250-251, 255-256); “Os Anos de Plenitude”, pág. 12-13, 121, 125-126, 243, 245, 253).