- Progresso; Relativo na Alma, Não Ocorre no Espírito
Pensamos que há progresso, evolução, que através do tempo alcançaremos um resultado; (…) sendo esse resultado a união com a realidade. Falamos do progresso evolutivo do homem, dizemos que, com o tempo, “viremos a ser” alguma coisa – se não nesta vida, na vida futura. Isto é, (…) evolvemos para algo maior, mais belo, mais digno, etc. (A Arte da Libertação, pág. 134)
Pois bem, existe a possibilidade de vos tornardes mais sábio, mais belo, mais virtuoso, mais aproximado da realidade, pelo processo do tempo? É o que queremos dizer, quando falamos de evolução. Existe, obviamente, uma evolução fisiológica, (…) mas existe um desenvolvimento psicológico, evolução psicológica, ou se trata apenas de uma fantasia de nossa mente? (…) (Idem, pág. 134)
Ora, para vos tornardes alguma coisa, precisais especializar-vos (…) – e tudo o que se especializa, logo morre, declina, porque a especialização implica sempre falta de adaptabilidade. (…) Isto é, o autoconhecimento é um processo de especialização? Se é, então esse processo de especialização destrói o homem – e é isso o que está acontecendo. (…) (Idem, pág. 134-135)
Pergunta: Qual a vossa idéia de evolução?
Krishnamurti: É óbvio (…) o simples tornando-se mais complexo será evolução? Ao falardes em evolução não pensais apenas na evolução da forma. Pensais na sutil evolução da consciência a que chamais o “eu”. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 82)
Disto surge a pergunta: Haverá crescimento, uma continuidade futura? Pode o “eu” tornar-se onicompreensivo, perdurável? (Idem, pág. 82)
Aquilo que é capaz de crescimento não é eterno. O que é perdurável está indo-a-ser. Vós me perguntais se o “eu” evolui, se se torna glorioso, divino. (Idem, pág. 82)
(…) Com relação à continuidade, precisamos apreciar a idéia de que existe em nós uma essência espiritual, a qual é contínua. (…) Tudo quanto é, em essência, atemporal, eterno. Se assim é, então é evidente que o atemporal, o eterno, é algo que transcende o nascer e o morrer. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 135)
Ora, que é isso que chamamos continuidade? Que é que continua? De duas coisas, uma: ou é uma entidade espiritual e, por conseguinte, fora do tempo, ou é, simplesmente, a memória, dando continuidade a si mesma, por meio do resíduo da experiência. (…) Isto é, se sou uma entidade espiritual, então sou atemporal; logo, não há continuidade. Porque o que é espiritualidade, verdade, divindade, está fora do tempo (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 61)
Se isso que eu sou é uma entidade espiritual, ela deve ser sem continuidade, não pode progredir, não pode crescer, não pode vir-a-ser (…) Então, a vida e a morte são uma coisa só, há então atemporalidade, eternidade. (…) (Idem, pág. 61)
(…) O que continua não tem renovação, não tem frescor, não tem novidade, porque está apenas continuando o que foi ontem, numa forma modificada. (…) Não há renovação por meio da memória, (…) da continuidade; só ocorre renovação quando há um término (…) quando há morte, quando a idéia cessa. Então, todos os dias há renovação. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 63)
Evolução, no sentido de extensão da própria individualidade através do tempo, é uma ilusão. O que é imperfeito, (…) ainda que multiplicado e aumentado, permanecerá sempre imperfeito. (…) Ora, é vão aumentar ao enegésimo grau esta autoconsciência que é separação; ela permanecerá separada porque tem as suas raízes na separação. Portanto, a amplificação deste “eu sou”, que é separação, não pode conduzir ao universal. (…) (Experiência e Conduta, em Carta de Notícias” de maio-junho de 1941, pág. 3)
Pergunta: A evolução nos ajudará a encontrar Deus?
Krishnamurti: Não sei o que entendia por “evolução” nem (…) por “Deus”. Essa questão me parece bastante importante (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 132)
E o interrogante deseja saber se, através do tempo, se pode chegar ao conhecimento daquilo que se acha além do tempo. (…) Somos escravos do tempo; nossa mente, toda ela, só pensa em termos de ontem, de hoje ou de amanhã. (…) Existe alguma coisa na mente que está fora do tempo – o espírito (…) O que é suscetível de desenvolvimento, evolução, “vir-a-ser”, não é parte do eterno (…) (Idem, pág. 133)
Pergunta: Acreditais no progresso?
Krishnamurti: Há o movimento da chamada progressão do simples para o complexo. Existe o processo de constante ajustamento ao ambiente, que promove transformações ou mudanças, (…) “Progredimos”!:possuímos rádios, cinemas, rápidos meios de transporte (…) Temos habitações maiores e mais confortáveis, mais luxo, (…) entretenimentos (…) Pode considerar-se progresso, isso? É progresso a expansão do desejo material? Ou reside o progresso na compaixão? (O Egoísmo e o problema da Paz, pág. 140-141)
Existe progresso no campo da ciência mecânica, e a conquista do espaço. Entretanto, não me refiro a essa espécie de progresso, porque o progresso na ciência mecânica será sempre transitório (…) (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 150-151)
Não pode haver preenchimento para o homem no progresso mecânico. (…) Quando falamos de progresso, aplicado ao que chamamos crescimento individual, que queremos dizer com isso? Queremos dizer a aquisição de mais conhecimento, de maior virtude, que é preenchimento. (…) (Idem, pág. 151)
Vós adorais o sucesso. Vosso deus é o sucesso, que vos confere títulos, diplomas, posição e autoridade. Há uma constante batalha dentro de vós mesmos – a luta por alcançardes aquilo que desejais. Nunca tendes um momento tranqüilo, nunca existe paz em vosso coração, porque estais sempre a esforçar-vos por vos tornardes alguma coisa, por progredirdes. (Por que não te Satisfaz a Vida? pág. 50)
Não vos deixeis seduzir pela palavra “progresso”. As coisas mecânicas progridem, mas o pensamento humano nunca pode progredir senão no seu próprio “vir-a-ser”. Move-se o pensamento do conhecido para o conhecido; mas isso não é crescimento, não é evolução, não é liberdade. (Idem, pág. 50)
(…) Não entendemos por evolver o constante vir-a-ser do indivíduo, do seu “ego”, que acumula e rejeita, que é ávido e quer ser não ávido – o movimento interminável do vir-a-ser? A natureza mesma do “ego” é de criar contradição. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 100)
Entendemos também por progresso o constante expandir do desejo, do “ego” (…) Ora, nesse processo de expansão, de vir-a-ser, podemos em algum tempo chegar ao fim do conflito e da aflição? (…) Se é para a continuação das lutas e dos sofrimentos, que valor tem o progresso, a evolução do desejo, a expansão do “ego”? (…) Mas, não é da própria natureza do anseio criar e alimentar o conflito e o sofrimento? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 141)
O “ego”, esse feixe de lembranças, é o resultado do passado, produto do tempo; e esse “ego”, por mais que evolva, será capaz de conhecer o Atemporal? Pode o “eu”, com o tornar-se maior e mais nobre, no correr do tempo, sentir o Real? (Idem, pág. 142)
Desejais “progresso” e felicidade ao mesmo tempo, e aí é que está a dificuldade. (…) Desejais a expansão de vosso “ego”, mas sem o conflito, o sofrimento que inevitavelmente a acompanham. Temos medo de nos ver assim como somos; procuramos fugir da realidade e a essa fuga chamamos “progresso” ou busca da felicidade. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 205-206)
Acreditamos que, se não “progredirmos”, nos deterioraremos; que nos tornaremos indolentes, infensos ao pensar (…) Nossa educação e o mundo que criamos nos ajudam a fugir; todavia, para sermos felizes, precisamos conhecer a causa do sofrimento. Conhecer a causa do sofrimento, e transcendê-la, significa encará-la, frente a frente, e não buscar refúgio em ideais ilusórios ou outras atividades do “ego”. A causa do sofrimento é a expansão do “ego”. (…) (Idem, pág. 206)
Pergunta: Já dissestes que o esclarecimento jamais nos poderá vir pela expansão pessoal; mas não vem ele com a expansão da consciência individual?
Krishnamurti: O esclarecimento, a compreensão do Real, não poderá vir, nunca, pela expansão do “ego”, por um esforço realizado pelo “ego” no sentido de crescer, “vir-a-ser”, alcançar algo – e esforço algum está separado da vontade, do “ego”. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 199-200)
Precisamos conhecer (…) É claro que há desenvolvimento físico, a plantinha se converte numa grande árvore; há o progresso técnico (…) Mas há progresso psicológico, evolução psicológica? É disso que estamos tratando: se há um desenvolvimento, uma evolução do “eu” (…) Pelo processo da evolução, através do tempo, pode o “eu”, centro do mal, tornar-se nobre, bom? Não pode (…) (Claridade na Ação, pág. 141-142)
Pensamos que, no processo do tempo, no crescer e transformar-se, o “eu” se tornará, no fim, realidade. (…) Que é esse “eu”? É um nome, uma forma, um feixe de lembranças, esperanças, frustrações, ânsias, dores, sofrimentos e alegrias passageiras. Queremos que esse “eu” subsista e se torne perfeito (…) (Idem, pág. 142)
Se admitirmos a possibilidade e evolução e progresso psicológico, nesse caso temos de admitir também o tempo. Mas o tempo é produto do pensamento. E o pensamento (…) é sempre velho. Ele pode transformar-se, modificar-se, ser aumentado ou diminuído, mas será sempre pensamento, reação da memória, pertence ao passado. (…) Se não há tempo psicológico (como não há), estais então em contato com “o que é” e não com o que “deveria ser”. (…) Repito, “o que deveria ser” é uma invenção, uma fuga ao fato – “o que é” (…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 144)
Essa idéia de crescer progressivamente é falsa, para mim, porque aquilo que cresce não é eterno. Já se demonstrou alguma vez, que quanto mais tendes, mais entendeis? (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 32)
Um homem aumenta sua propriedade e nela se encerra; outro aumenta seu conhecimento e por ele fica limitado. Qual a diferença? Esse processo de crescimento acumulativo é superficial, falso desde o próprio começo, porque aquilo que é capaz de crescer não é eterno. (Idem, pág. 32-33)
(…) Quando pensamos em termos de progresso, desenvolvimento, não estamos pensando e sentindo dentro de padrão do tempo? Existe um vir-a-ser, um modificar e alterar, no plano horizontal; esse vir-a-ser conhece a dor e a tristeza, mas conduzirá ele à Realidade? Não; porque o vir-a- ser condiciona-nos ao tempo. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 143)
Só há vir-a-ser e evolver no plano horizontal da existência, mas conduz isso ao Atemporal? A potência criadora só pode ser conhecida depois de abandonado o plano horizontal. (…) Por meio do tempo não se pode conhecer o Atemporal. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 99)
Pensamos em termos de passado, presente e futuro (…) Pensamos e sentimos em termos de acumulação (…) “Ser” não é totalmente diferente de “vir-a-ser”? Só compreendendo o processo e a significação de “vir-a-ser”, podemos “ser”. (…) Quando percebeis a imensidade do “ser”, há então silêncio (…) (Idem, pág. 142-143)
(…) Devemos pôr de lado todas essas coisas e chegar-nos ao problema central, que é: Como dissolver o “eu”, que nos prende ao tempo, e no qual não existe nem amor nem compaixão? Só é possível passarmos além, depois que a nossa mente não mais se divida em pensador e pensamento, quando (…) pensador e pensamento são uma só unidade, só então há silêncio, (…) não há fabricação de imagens, nem a expectativa de “mais” experiência. Nesse silêncio não há nenhum experimentador experimentando, e só então há uma revolução psicológica criadora. (Claridade na Ação, pág. 145)
Uma vez cônscia de todo esse processo do “eu”, em sua atividade, que deve a mente fazer? Só com a renovação, só com a revolução – não pela evolução, não com o “eu” na atividade de vir-a-ser, mas sim pelo completo findar do eu”, há o novo. O processo do tempo não pode trazer o novo; o tempo não é caminho da criação. (Quando o Pensamento Cessa, pág. 220)
Assim (…) Dizeis: “eliminai, libertai a mente desta consciência de “mim mesmo”, como um “eu”, e então o que é que permanece?” O que resta quando sois sumamente felizes, criativos? O que permanece é essa felicidade. (…) Existe este admirável sentimento de amor ou este êxtase. (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 116)
(…) Digo-vos que não posso descrever (…) exprimir em palavras essa vivente realidade que está além de toda idéia do progresso, de crescimento. (…) (Coletânea de Palestras, 1930-1933, pág. 44)
Para mim, a verdade, essa integridade de que falo, acha-se em todas as coisas. Portanto, a idéia de que necessitais progredir em direção à realidade é uma idéia falsa. Não se pode progredir na direção de uma coisa que sempre está presente. Não se trata de avançar para o exterior ou de voltar-se para o interior, mas sim de se libertar dessa consciência que se percebe a si mesma como separada. (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 18)
Quando houverdes realizado tal integridade, vereis que tal realidade não tem futuro nem passado; e todos os problemas relacionados com tais coisas desaparecem inteiramente. Uma vez que o homem realize isso, vem-lhe a tranqüilidade, não a da estagnação, porém a da criação, a do ser eterno. Para mim, a realização desta verdade é a finalidade do homem. (Idem, pág. 18)