
Índice
Introdução
Primeira parte
Diálogos com estudantes
01 – Sobre a Educação
02 – Sobre a Mente Religiosa e a Mente Científica
03 – Sobre o Conhecimento e a Inteligência
04 – Sobre a Liberdade e a Ordem
05 – Sobre a Sensibilidade
06 – Sobre o Medo
07 – Sobre a Violência
08 – Sobre a Criação da Imagem
09 – Sobre o Comportamento
Segunda parte
Diálogos com professores
01 – Sobre Educação Correta
02 – Sobre a Visão a Longo Prazo
03 – Sobre Ação
04 – Sobre a Verdadeira Negação
05 – Sobre a Competição
06 – Sobre o medo
07 – Sobre Ensino e Aprendizagem
08 – Sobre a Boa Mente
09 – Sobre a Abordagem Negativa
10 – Sobre Meditação e Educação
11 – Sobre Florescer
Um ser humano é um verdadeiro ser humano quando o espírito científico e a verdadeira mente religiosa andam juntos. O ser humano criará um bom mundo – não o mundo do comunista ou do capitalista, de brâmanes ou de católicos romanos. Na verdade, o verdadeiro brâmane é a pessoa que não pertence a qualquer credo religioso, a qualquer classe, a qualquer autoridade; a qualquer posição na sociedade. Ele é o verdadeiro brâmane, o novo ser humano, que combina as mentes científica e religiosa e, portanto, é harmonioso sem qualquer contradição dentro de si mesmo. E eu penso que o propósito da educação é criar essa nova mente, que é explosiva, que não se conforma ao padrão que a sociedade estabeleceu.
Tenho certeza de que já ouviram de políticos, de educadores, de seus pais e do público que vocês são a geração do futuro. Mas quando eles falam de você como uma nova geração, eles não querem dizer isso de verdade, pois eles se certificam de que se amolde aos velhos padrões da sociedade. Eles não querem de verdade que você seja um tipo de ser humano novo, diferente. Eles querem que seja mecânico, para se ajustar à tradição, se adequar, acreditar, aceitar a autoridade. Apesar disso, se você puder realmente livrar-se do medo, internamente, profundamente, então, poderá ser um ser humano diferente. Aí você se torna a geração do futuro. As pessoas velhas são conduzidas pelo medo: medo da morte, medo de perder o emprego, medo da opinião pública. Elas estão completamente presas às garras do medo. Desse modo, seus deuses, suas escrituras, seus puja [atos de devoção] estão todos dentro do campo do medo e, portanto, suas mentes são curiosamente deformadas, pervertidas. Tal mente não pode pensar direito, não pode raciocinar logicamente, de modo sensato, saudável, porque está enraizada no medo. Observem a geração mais velha e verão como ela tem medo de tudo – da morte, de doenças, de ir contra a correnteza da tradição, de ser diferente, de ser nova.
Eu não sou contra o conhecimento. Há uma diferença entre aprender e adquirir conhecimento. O aprender cessa quando há um acúmulo de conhecimento. Há aprendizagem apenas quando não há nenhuma aquisição. Quando o conhecimento se torna importantíssimo, o aprendizado cessa. Quanto mais eu adiciono ao conhecimento, mais asseverada e mais segura a mente se torna, e, portanto, ela para de aprender. Aprendizagem não é nunca um processo aditivo. Quando se está aprendendo é um processo ativo. Enquanto adquirir conhecimento é meramente reunir informações e armazená-las. Então, eu penso que há uma diferença entre adquirir conhecimento e aprender. A educação em todo o mundo é meramente a aquisição de conhecimento e, portanto, a mente se torna embotada e para de aprender. A mente está apenas adquirindo. A aquisição dita a conduta da vida e, portanto, limita a experiência. Enquanto a aprendizagem é ilimitada.
Pode-se, em uma escola, não apenas adquirir conhecimento, que é necessário para viver neste mundo, mas também ter uma mente que está constantemente aprendendo? Os dois não estão em contradição. Em uma escola, quando o conhecimento se torna importantíssimo, a aprendizagem torna-se uma contradição. A educação deveria estar preocupada com a totalidade da vida e não com as respostas imediatas aos desafios imediatos.
Somos seres humanos ou profissionais? Nossas profissões ocupam a totalidade de nossas vidas e damos muito pouco tempo para o cultivo ou entendimento da mente, que é viva. A profissão vem em primeiro lugar, depois a vida. Nós abordamos a vida de um ponto de vista da profissão, do emprego, e passamos nossas vidas nele e, no fim de nossas vidas, nos voltamos à meditação, à atitude mental contemplativa.
Nós somos educadores ou seres humanos que veem a educação como uma forma significativa e verdadeira de ajudar seres humanos a cultivar a mente total? Viver vem antes de ensinar. O homem que é um especialista – um especialista em nariz e garganta – passa todo o seu dia examinando narizes e gargantas e obviamente sua mente é cheia de gargantas e narizes e apenas ocasionalmente ele pode pensar em meditação ou em olhar para a verdade.
Nós só estamos preocupados em ajudar o estudante a obter um diploma e conseguir um emprego e depois nós permitimos que ele se afunde nesta monstruosa sociedade. Para ajudá-lo a estar vivo é imperativo que o estudante tenha esse extraordinário sentimento pela vida, não a sua vida ou a vida de outra pessoa, mas pela vida, pelo aldeão, pela árvore. Isso é parte da meditação – estar apaixonado, amar – o que demanda um grande senso de humildade. Essa humildade não é para ser cultivada. Agora, como você vai criar o clima para isso, porque crianças não nascem perfeitas? Vocês podem dizer que tudo o que precisamos fazer é criar o ambiente e eles se tornarão seres maravilhosos; eles não se tornarão. Eles são o que são, o resultado de nosso passado com todas as nossas ansiedades e medos, e nós criamos a sociedade na qual eles vivem, e crianças devem se ajustar e são condicionadas por nós. Como vocês criarão o clima no qual elas vejam todas essas influências, no qual elas olhem para a beleza desta terra, olhem para a beleza deste vale? Assim como vocês dedicam tempo à matemática, ciência, música, dança, por que não dão algum tempo para isso?