- Fraternidade, Benevolência, Compaixão, Perdão
Aqueles de vós que falam em fraternidade são geralmente nacionalistas no coração. Que significa fraternidade, como idéia ou realidade? Como podeis realmente ter o sentimento de amor fraternal em vossos corações, quando mantendes uma série de crenças dogmáticas, quando fazeis distinções religiosas? E isso é o que estais fazendo em vossas sociedades, grupos. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 47)
Estais agindo de acordo com o espírito de fraternidade, quando existem tais distinções? Como podeis conhecer esse espírito quando tendes a consciência de classe? Como pode haver unidade ou fraternidade, quando pensais somente em termos de vossa família, de vossa nacionalidade, de vosso Deus? (Idem, pág. 47)
(…) As religiões e as nacionalidades realmente engaiolam as pessoas, entravam-nas. Isso está evidenciado no mundo, através da história; e o mundo tem, agora, cada vez mais seitas, (…) corporações fechadas por paredes de crenças, com seus guias especiais; e, no entanto, falais de fraternidade! (Palestras em Auckland, 1934, pág. 82)
Como pode haver verdadeira fraternidade quando o instinto possessivo é tão profundo e, por isso, necessariamente, deve conduzir a guerras, pois está baseando no nacionalismo, no patriotismo. (…) Um homem que é realmente fraternal, afetuoso, não fala de fraternidade; vós não falais de fraternidade à vossa irmã ou à vossa esposa, porque já existe um afeto natural. E como pode haver fraternidade, verdadeira unidade humana, quando existe exploração? (…) (Idem, pág. 82)
(…) Dizer que pelo nacionalismo seremos, no devido tempo, internacionais, teremos a fraternidade, é um processo de pensamento muito errôneo. Só depois de quebrardes os estreitos limites da mente e do coração, podereis passar além; e quando as paredes estiverem por terra, se descortinará a vastidão do horizonte da vida. (A Arte da Libertação, pág. 104)
A dificuldade é ser fraternal, ser bom, ser benevolente, ser generoso; e isso é impossível, enquanto só pensarmos em nós mesmos. Estais pensando em vós mesmos quando atribuís a máxima importância (…) como meio de vos proporcionar felicidade, (…) conservar vosso nome, vossa religião, vossas perspectivas, vossa autoridade, vossa conta no banco, vossas jóias. (A Arte da Libertação, pág. 104)
Quando um homem está interessado só em si mesmo e no prolongamento de si mesmo, como pode ele ter amor no coração, como pode ter boa vontade? (…) O homem que não pensa em si criará por certo um mundo novo, uma nova ordem, e é para esse homem que devemos volver os olhos (…) A boa vontade, a felicidade, a bem-aventurança, só virá quando houver a busca do real. O real está perto, não distante. (…) (Idem, pág. 104-105)
(…) O amor não é suscetível de pensar-se, não pode ser cultivado (…) A prática do amor, (…) da fraternidade está sempre no terreno da mente (…) Porque não sabemos amar a um só, o nosso amor à humanidade é fictício. Quando amais, não há um só nem muitos, só há amor. (…) (A Arte da Libertação, pág. 182)
(…) O amor é “extensivo” e por isso é possível amar ao que é particular. Mas a maioria de nós, não tendo esse amor “extensivo”, volta-se para o particular, e o particular destrói. (A Arte da Libertação, pág. 214)
Que é amor? Que é compaixão? A palavra “compaixão” significa paixão por todos, afeição para com todos os seres – inclusive os animais que matais para comer. (…) Sabemos o que significa amar, ou só conhecemos o prazer e o desejo, chamando-os “amor”? É certo que o prazer e o desejo se acompanham também de ternura, desvelo, afeição, etc., mas o amor é prazer, desejo? (…) Um homem depende de sua esposa, ama sua esposa, mas se ela olha para outro homem, fica enraivecido (…) frustrado, infeliz (…) É isso que chamais “amor” (…) (Fora da Violência, pág. 36)
Senhor, que é compaixão? Não é um estado de simpatia, piedade, consideração? E nesse estado, por certo, não há sentimento de estardes ajudando a outrem. (…) Nesse estado de compaixão, podemos dar ajuda, dar simpatia a outro, mas não há conflito interior. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 198)
Sois responsáveis pelas misérias e pelos desastres que ocorrem no mundo, pois na vossa vida diária sois cruéis, opressores, ávidos e ambiciosos. (…) Abrigai em vossos corações a paz e a compaixão, e aclarar-se-ão as vossas dúvidas. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 16) (…)
Se não extirpais de vós mesmos as causas da inimizade, da ambição, da avidez, são falsos os vossos deuses e vos conduzirão à desgraça. Só a benevolência e a compaixão são capazes de promover a ordem e a paz no mundo; (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 26)
Ora bem, (…) Num mundo como o atual, em que há tanta violência, (…) ódio e brutalidade, a palavra “compaixão” é quase sem significação. (…) Há violência em todos nós, consciente ou inconscientemente. Existe agressividade, o desejo de ser ou “vir a ser” algo, o impulso para nos “expressarmos” custe o que custar, para nos preenchermos sexualmente, nas relações sociais, no escrever, no pintar (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 49)
(…) O pensamento não pode, em circunstância nenhuma, cultivar a compaixão (…) Mas, se cada um de nós não tiver um profundo sentimento de compaixão, tornar-nos-emos cada vez mais brutais e desumanos uns com os outros. (…) (Idem, pág. 51)
Para produzir ordem, vós mesmo deveis ter consideração e compaixão para com outrem. A ação nascida do ódio só pode criar futuros ódios. A raiva em todas as circunstâncias é a ausência de compreensão e amor. (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 46)
Não estais realmente preocupado com a injustiça; se estivésseis, jamais vos zangaríeis; (…) Se nas nossas relações humanas existirem a compaixão e o perdão, a generosidade e a benevolência, como pode haver também brutalidade e ódio? Se não tivermos amor, como poderá haver ordem e paz? (…) (Idem, pág. 46)
(…) se quereis a paz, urge empregardes meios pacíficos (…) Só a benevolência e a compaixão tornarão possível a paz no mundo, não a força, nem a sagacidade, nem a simples legislação. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 16)
Perdemos o sentimento de humanidade; reconhecemo-nos responsáveis somente perante a classe ou grupo a que pertencemos; (…) perante um nome, um rótulo. Perdemos a compaixão, o amor ao todo, e, sem essa vivificante chama da vida, volvemo-nos para os políticos, (…) os sacerdotes, (…) Em nada disso há esperança. Só no interior de cada um de nós reside a compreensão criadora, a compaixão, tão necessária para o bem-estar do homem. Os meios criam os fins justos; (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 84)
Quando há compaixão, o sentimento da compaixão, ela não atinge apenas o pobre aldeão ou o animal faminto; sua intensidade é sempre a mesma onde quer que estejais, numa choça ou num palácio (…) (O Homem Livre, pág. 109)
Como dissemos (…) o amor nada tem em comum com o tempo, nem com a memória. E essa excelência que chamamos amor é compaixão, a qual inclui a ternura, a bondade, a generosidade, etc. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 61)
Acho, pois, necessário que a mente humana compreenda totalmente essa questão – o que é a bondade. A palavra “bondade’ não é o fato, (…) não é a coisa (…) A bondade só pode desabrochar, florir, na liberdade. A liberdade não é uma reação, (…) e tampouco é uma resistência ou revolta contra alguma coisa. É um estado de espírito; e esse estado de espírito (…) não pode ser compreendido se não há espaço. A liberdade exige espaço. (O Descobrimento do Amor, pág. 117)
Aí está a razão por que importa descobrir se uma pessoa pode ser boa, (…) sem se esforçar para ser boa, sem lutar para libertar-se da inveja, da ambição, da crueldade (…) Pode haver bondade, sem se fazer esforço para “ser bom”? Acho que só haverá, se cada um de nós escutar, ficar atento. (…) Esquecei todos os livros que lestes, tudo o que vos têm ensinado, e prestai atenção à asserção de que não pode haver virtude, enquanto houver esforço para ser virtuoso. (…) (Realização sem Esforço, pág. 38-39)
(…) Qual é a relação entre amor e compaixão, ou são eles o mesmo movimento? Quando usamos a palavra “relação”, ela implica dualidade, separação, mas estamos perguntando que lugar tem o amor na compaixão, ou é o amor a mais alta expressão da compaixão? Como pode ter compaixão se você pertence a alguma religião, segue algum guru, crê em alguma coisa, em escrituras, etc., se estiver apegado a uma conclusão?
Quando você aceita um guru, chega a um desfecho, ou se você acredita fortemente em deus ou num salvador, nisto ou naquilo, pode haver compaixão? Você pode dedicar-se a trabalho social, ajudar o pobre desamparado de piedade, simpatia, caridade, mas isso é tudo que compreende o amor e a compaixão? (Mind Without Measure, pág. 97)
Estamos tentando descobrir se é possível viver neste mundo sem nenhum medo, conflito, com um enorme senso de compaixão, o que exige grande soma de inteligência. Você não pode ter compaixão sem inteligência. E essa inteligência não é atividade do pensamento. Você não pode ser compassivo se está ligado a determinada ideologia, a um particular tribalismo estreito, ou a algum conceito religioso, porque tudo isso é limitação. A compaixão só pode surgir, despertar, quando há o fim do ressentimento, o que representa o fim do movimento egocêntrico. (The World of Peace, pág. 86)
O amor é como a morte. Amor significa compaixão. Amor, compaixão, significam inteligência suprema, não a inteligência de livros, de estudiosos e da experiência. Isso é necessário até certo ponto, mas só há a quintessência da inteligência total quando há amor, compaixão. Não pode haver compaixão e amor sem morte, que é o fim de todas as coisas. Então há criação. Ou seja, o universo, não de acordo com os astrofísicos, é a suprema ordem. (…)
E essa inteligência não pode existir sem compaixão, amor e morte. Isso não é um processo de meditação, mas de profunda investigação. Inquirir com grande silêncio, não “eu estou investigando”. Grande silêncio, grande espaço. O que é essencialmente amor, compaixão e morte é a aludida inteligência, que é criação. Criação existe quando estes outros dois existem: amor e morte. Tudo o mais é invenção. (Last Talks at Saanen, 1985, pág. 127)
(…) No entendimento da natureza do amor, havendo a virtude da mente unida ao coração, surge a inteligência. A inteligência é o entendimento ou descoberta do que é o amor. Inteligência nada tem a ver com o pensamento, esperteza, conhecimento. Você pode ser muito eficiente em seus estudos, no seu trabalho, ser capaz de discutir habilmente, racionalmente, mas isso não é inteligência. A inteligência é acompanhada de amor e compaixão, e você não pode chegar a essa inteligência como um indivíduo (isolado).
A compaixão não é sua nem minha, da mesma forma que o pensamento não é seu nem meu. Quando há inteligência, não há eu e você. E a inteligência não fica em seu coração ou em sua mente. Tal inteligência, que é suprema, está em toda parte. Ela é a inteligência que move a terra e os céus, as estrelas, porque ela é compaixão. (Mind Without Measure, pág. 97)
E onde há qualidade de amor, então daí surge a compaixão; onde há compaixão há inteligência – não a inteligência do interesse próprio, não a inteligência do pensamento, não a inteligência (…) do acúmulo de conhecimento, pois a compaixão nada tem a ver com conhecimento – mas a inteligência que proporciona segurança à humanidade, estabilidade e um vasto sentido de expansão. (The World of Peace, pág. 98)
(…) Quando compreendo a mim mesmo, compreendo a vós, e dessa compreensão nasce o amor. O amor é o fator que está faltando – há falta de afeição, de cordialidade, nas relações; e porque falta esse amor, essa ternura, essa generosidade, essa compaixão, em nossas relações, escapamo-nos para a ação em massa, que produz maior confusão e maior miséria. (…) (A Arte da Libertação, pág. 63)
(…) O amor ultrapassa e sobreleva tudo isso; ele transcende o plano dos sentidos. É em si mesmo eterno e independente, e não um resultado. Nele há misericórdia e generosidade, perdão e compaixão. Com o amor, surge a humildade e a brandura (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 90)
O amor não é oposto de coisa alguma. Não é o oposto do ódio ou da violência (…) Para o homem que ama não há erro; ou, se há, sabe corrigi-lo imediatamente. O homem que ama não tem ciúme, (…) remorsos. Para ele não existe o perdão, porque nunca surge uma ocasião em que haja algo para perdoar. Tudo isso exige profunda investigação (…) (Fora da Violência, pág. 37)
Vossa comiseração, pois, não é amor. E é amor o perdão? Que está implicado no perdão? Vós me insultais e eu fico ressentido e guardo isso na lembrança; depois (…) digo: “perdôo-vos”. (…) Um homem que ama não guarda inimizade, sendo indiferente a todas essas coisas, (…) Enquanto a mente é o árbitro, não há amor; porque a mente só arbitra segundo o interesse de posse (…) A mente só pode corromper o amor, não pode dar beleza. (A Arte da Libertação, pág. 180-181)