- Finalidade da Vida; Desafios, Plenitude, Eternidade
Sabem o que é a vida? (…). Vou então explicar-lhes. Já viram os aldeões, vestidos de farrapos, sujos, perpetuamente esfomeados, trabalhando sem parar? Esta é uma parte da vida. Adiante notarão um homem de carro, a mulher coberta de jóias, perfumada, com vários empregados. Este é outro aspecto da existência. Ali se acha aquele que voluntariamente abriu mão das riquezas, que vive com simplicidade, anonimamente, como um desconhecido, que não se considera um santo. Também aqui temos outra parte da vida (…). (Ensinar e Aprender, pág. 37)
Depara-se alhures com o homem que deseja tornar-se eremita, e existe ainda o que se torna devoto, o qual não deseja pensar, mas apenas seguir cegamente alguma coisa. Existe, igualmente, aquele que pensa cuidadosamente, com lógica e sanidade, e que, ao descobrir que seus pensamentos são limitados, procura transcendê-los. Ele também compõe a vida. E a morte, a perda de tudo, do mesmo modo faz parte da vida. A crença em deuses e deusas, em salvadores, no paraíso, no inferno, são outros fragmentos da existência. E o amor, o ódio, o ciúme, a cobiça, tudo isso configura a vida (…). (Idem, pág. 37)
O que desejo discutir (…) é o problema da mente que se aplica a este vasto e complexo problema da existência. A existência não se restringe à obtenção ou conservação de um emprego, mas encerra toda a esfera da existência psicológica, quase desconhecida para a maioria de nós (…). O problema da existência é este vasto complexo de guerras, classes, castas, divisão – a perpétua batalha do homem contra o homem, em competição (…). (O Problema da Revolução Total, pág. 38)
(…) Pusemos este mundo em desordem, (…) porque não sabemos o que é viver. Viver não é essa coisa insípida, medíocre, disciplinada, que chamamos “nossa existência” (…). O viver é transbordante de riqueza, é eterna transformação e, enquanto não compreendermos esse movimento eterno, nossa vida será, de certo, muito pouco significativa. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 97)
A experiência é uma coisa, o viver é outra. A experiência é uma barreira ao viver; agradável ou desagradável, impede o florescimento dele. A experiência já está encerrada na rede do tempo, (…) no passado; tornou-se memória, que só toma vida como reação ao presente. A vida é o presente; não é experiência (…). A mente é experiência, o conhecido, não pode pôr-se no “estado de viver”; (…). A mente só conhece a continuidade, e não pode receber o novo (…). A experiência tem de cessar para dar lugar ao viver. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 29-30)
A vida é, e tem de ser, uma série de desafios e “respostas”. O desafio não acompanha nossos gostos e aversões, nem nossos desejos especiais, assumindo formas diferentes (…). E, se temos a capacidade de responder ao desafio de maneira adequada, completa, direta, desaparece, então, o problema. (O que te fará Feliz?, pág. 99)
Mas, (…) o desafio da vida não é feito em nenhum nível determinado da existência. A vida não está num único nível, quer o econômico, quer o espiritual. A vida, (…) é um estado de relação, em níveis diferentes; ela está sempre fluindo, (…) a expressar-se de maneiras diferentes; e feliz é o homem que tem a capacidade de enfrentar a vida de maneira completa, em níveis diferentes e em todas as ocasiões. (Idem, pág. 99-100)
Podemos ver (…) que, num nível, buscamos conforto, bem-estar físico: queremos uma situação folgada, ter dinheiro, amor, posses, viajar e ter a possibilidade de fazer certas coisas. (…) Noutro nível, um pouquinho mais profundo, queremos felicidade, liberdade, (…) ter a capacidade de fazer coisas espetaculares, grandiosas, magnificentes. (…) (Poder e Realizações, pág. 36)
(…) E, se vemos um pouco mais profundamente, desejamos descobrir o que está além da morte, e o que é o amor, (…) trabalhar por um ideal, pelo estado perfeito. E, mais profundamente ainda, aspiramos a descobrir o que é a Realidade, o que é Deus, o que é essa coisa tão fecunda e sempre nova. (…) Andamos à deriva, impelidos pelas circunstâncias, até chegar a morte (…). (Idem, pág. 36).
Assim, pois, nunca nos acalmamos um pouco para fazer um exame de nós mesmos e procurar discernir o que estamos buscando. (…) Pois, em geral, somos medíocres. Não há nada vital, nada novo, nada criador, em nós. Tudo o que criamos é tão vazio, tão vulgar e sem significação! Não cumpre, portanto, averiguarmos o que é que queremos? (Idem, pág. 36)
Pergunta: Vivemos, mas não sabemos por quê. Para muitos de nós, a vida parece não ter significação. Podeis dizer-nos qual é o significado e a finalidade do nosso viver?
Krishnamurti: (…) Que entendemos por “vida”? O viver não é, em si, a sua própria finalidade, a sua própria significação? (…) Por que estamos tão insatisfeitos com a nossa vida, por que ela é tão vazia, tão frívola, tão monótona?. (…) Desejamos algo mais, algo superior àquilo que costumamos fazer. (…) (A Arte da Libertação, pág. 193-194)
Positivamente, senhor, o homem que está vivendo com plenitude, (…) que vê as coisas como são, está satisfeito com o que tem, não está confuso; está lúcido e, por conseguinte, não pergunta qual é a finalidade da vida. Para ele, o próprio viver é o começo e o fim. Nossa dificuldade, pois, é que, sendo nossa vida vazia como é, queremos encontrar uma finalidade para a vida, e lutamos por alcançá-la. (Idem, pág. 194)
Tal finalidade da vida não passa de produto intelectual, inteiramente irreal; quando a finalidade da vida é solicitada por uma mente estúpida e embotada, essa finalidade há de ser também vazia. O nosso problema, por conseguinte, consiste em como tornarmos rica a nossa vida, não de dinheiro, etc., mas interiormente rica (…). A realidade só pode ser compreendida no viver, e não no fugir. (…) A vida é relação, (…) é ação em relação; (…). (A Arte da Libertação, pág. 194-195)
Vamos então discorrer sobre a finalidade da vida (…). Em primeiro lugar, quando discutimos um assunto dessa natureza, devemos por certo fazê-lo com muito empenho, e não com uma mentalidade acadêmica, erudita ou superficial, porque isso não nos leva a parte alguma. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 48-49)
(…) A vida, por certo, implica ação diária, pensamento diário, sentimento diário (…). Implica as lutas, as dores, as ânsias, os enganos, as tribulações, a rotina do escritório, dos negócios (…). Por “vida” entendemos não uma só esfera ou camada da consciência, mas o processo total da existência, que é a nossa relação com as coisas, com as pessoas, com as idéias. É isso o que entendemos por vida – e não uma coisa abstrata. (Idem, pág. 49)
Cumpre-nos averiguar muito claramente o que entendemos por finalidade, se há finalidade. Podeis dizer que há uma finalidade: alcançar a realidade, Deus, ou o que quiserdes. Para alcançarmos esse alvo, porém, precisamos conhecê-lo, (…) conhecer a extensão, a profundidade do mesmo. (…) Uma vez que a realidade é o desconhecido, a mente que busca o desconhecido deve primeiro libertar-se do conhecido (…). (Idem, pág. 50)
(…) Para descobrir a finalidade da vida, a mente precisa estar livre de medida; (…). Que é mais importante: descobrir a finalidade da vida ou libertar a mente de seu próprio condicionamento, para depois investigar? Talvez, quando a mente estiver livre de condicionamento, essa liberdade, em si, seja a finalidade. (…) (Idem, pág. 51)
O requisito primordial, portanto, é a liberdade, e não a busca da finalidade da vida. Sem liberdade, é bem óbvio que não podemos encontrá-la; sem ficarmos livres de nossas pequeninas necessidades, nossos desígnios, ambições, de nossa inveja e malevolência, (…) como é possível investigar ou descobrir a finalidade da vida? (Idem, pág. 52)
(…) Afinal, senhores, para descobrir a verdade, ou Deus, (…) preciso primeiro compreender a minha existência, (…) a vida em torno de mim e em mim, pois, de outro modo, a busca da realidade se transforma em mera fuga da ação de cada dia; e, como a maioria de nós não compreende a ação de cada dia, visto que para a maioria de nós a vida é servidão, dor, sofrimento, angústia, dizemos: “Pelo amor de Deus, dizei-nos como fugir disto”. É o que queremos, os mais de nós: um narcótico, para não sentirmos as dores e as penas da vida. (…) (Idem, pág. 53)
(…) A verdadeira simplicidade da inteligência, isto é, o ajustamento profundo ao movimento da vida, só advém quando, mediante percebimento compreensivo e correto esforço, começamos a desfazer as múltiplas camadas de resistência autoprotetora. Somente então, teremos a possibilidade de viver espontânea e inteligentemente. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 105)
(…) Entretanto, é unicamente através da dúvida, (…) da crítica, que podeis preencher-vos; e a finalidade da vida é o preenchimento, não o acúmulo, não a consecução (…). A vida é um processo de busca, (…) não para um fim particular, mas para libertar a energia criadora, a inteligência criadora no homem; é um processo de movimento eterno, desimpedido de crenças, grupos de idéias, dogmas, (…) conhecimento. (Palestras em Adiar, Índia, 1933-1934, pág. 8-9)
(…) O viver realmente exige abundância de amor, de sensibilidade ao silêncio, grande simplicidade, (…) experiência. Requer uma mente capaz de pensar com toda clareza, não tolhida pelo preconceito ou pela superstição, pela esperança ou pelo medo. Tudo isso é a vida, e, se não estais sendo educados para viver, vossa educação é (…) sem significação. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 35)
Como a nuvem perseguida pelos ventos através do vale, é o homem (…). O homem não tem alvo, está cego para a finalidade da vida; e nele – e portanto no mundo – domina o caos e a desintegração. (A Finalidade da Vida, pág. 3)
E qual é a finalidade da vida? É a liberdade da vida, a libertação da vida de todas as coisas, (…) depois de havermos passado por todas as experiências (…). (Idem, pág. 3)
Desejo mostrar-vos que, para preencherdes a vida, como eu a preenchi, deveis acolher alegremente (…) toda experiência, quer agradável, quer desagradável (…) (Idem, pág. 3)
Para o indivíduo autoconsciente, há sujeito e objeto (…). Mas a finalidade da existência, a plenitude do indivíduo, é realizar em si próprio – sem objeto ou sujeito – a Totalidade, que é a vida pura. Portanto, é na subjetividade do indivíduo que o objeto realmente existe. (…) (Experiência e Conduta, em Carta de Notícias de maio-junho de 1941, pág. 4)
(…) Nele reside o começo e o fim, a origem e a meta. Em criar uma ponte entre o começo e o fim consiste o preenchimento do homem. (…) Enquanto não vos compreenderdes a vós mesmos, (…) não penetrardes em vossa própria plenitude, podeis ser dominados, presos à roda da luta contínua. (…) (Idem, pág. 4)
Alcançar a Verdade é desdobrar a vida, é dar-lhe a mais ampla possibilidade de expressão. Para mim, a única meta, o único mundo que é eterno, (…) absoluto, é o mundo da verdade. (…) (A Finalidade da Vida, pág. 4)
O homem a quem essa visão se manifestou, tem sempre diante de si, ainda que empenhado nas lutas do mundo, esse alvo eterno. Embora ele peregrine por entre as coisas transitórias, ainda que se perca nas sombras, sua vida será sempre guiada por esse alvo, que é a libertação de todos os desejos, (…) experiências, (…) tristezas, dores e lutas. (…) (Idem, pág. 4)
Na sombra do presente, está preso o homem. Cavar uma passagem, através do presente, para o eterno, eis a finalidade do homem. Deve todo ser humano entregar-se à tarefa de perfurar esse túnel, que representa o caminho direto para se alcançar a vida. (Idem, pág. 8)
E esse túnel, que é o único caminho que conduz ao preenchimento da vida, está dentro de vós mesmos. Nesse túnel não há regressar, porque lançais para trás o que removeis de vossa frente. Não podeis ir senão para diante, (…) pois, do contrário, cessará o progresso como tal. (…) (Idem, pág. 8)
O propósito último da existência individual é realizar o ser puro, em que não há separação, que é a realização do Todo. O preenchimento do destino do homem é ser a totalidade. (…) A individualidade é apenas um fragmento da Totalidade (…). (Experiência e Conduta, em Carta de Notícias de maio-junho de 1941, pág. 3)
(…) Mas a finalidade da existência, a plenitude do indivíduo, é realizar em si próprio – sem objetivo ou sujeito – a totalidade que é a vida pura. (…) No indivíduo estão o começo e o fim. Nele reside a totalidade de toda experiência, de todo pensamento, de toda emoção. Nele está toda a potencialidade, e a sua tarefa é realizar essa objetividade no subjetivo. (Idem, pág. 4)
(…) Em criar uma ponte entre o começo e o fim consiste o preenchimento do homem. (…) Na civilização atual, entretanto, a coletividade está se esforçando para dominar o indivíduo, sem respeitar o seu desenvolvimento, mas é o indivíduo que importa. (…) Então ele já não será dominado pela moralidade, pela estreiteza, pelas convenções e experiências de sociedades e grupos. (Idem, pág. 4)
Fui procurar por mim mesmo o propósito da vida, e encontrei-o sem a autoridade de outrem. Penetrei nesse oceano de libertação e felicidade, onde não há limitação nem negação, porque ele é o preenchimento da vida. (Vida em Liberdade, IV, em Carta de Notícias de 1945, nº 1 a 6, pág. 23)