- Fator Tempo, Mecanismo; Cronológico, Psicológico
Temo-nos ocupado de vários assuntos, (…) mas parece-me que uma das questões mais importantes que devemos investigar e cuja significação devemos descobrir, é a questão do tempo. (…) Assim, se me é permitido, desejo falar um pouco sobre o que é o tempo; porque a beleza e o significado daquilo que é atemporal, verdadeiro, só podem ser experimentados quando compreendemos, no seu todo, o processo do tempo. (…) (A Arte da Libertação, pág. 159)
Nossas mentes são o produto de muitos dias passados, e o presente é apenas a passagem do passado para o futuro. Nossas mentes, nossas atividades, nosso ser, estão fundados no tempo; sem o tempo não podemos pensar, porque o pensamento é resultado do tempo, (…) é produto de muitos dias passados, e não há pensamento sem memória. A memória é tempo; porque há duas espécies de tempo: o tempo cronológico e o tempo psicológico. Há o tempo – o ontem marcado pelo relógio, e o ontem registrado pela memória. (Idem, pág. 160)
Psicologicamente, somos escravos do tempo – que é a memória de ontem, do passado, com todo o seu acúmulo de experiências; não só nossa memória como pessoa particular, mas também a memória do “coletivo”, da raça, do homem através das idades. O passado é constituído dos sofrimentos do homem, individuais e coletivos, de suas aflições, alegrias, sua tremenda luta com a vida, a morte, a verdade (…) a sociedade. (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 89)
O tempo é coisa que foi construída pelo cérebro, e este, a seu turno, é resultado do tempo (…) Todo pensamento é resultado do tempo, reação da memória de ontem, das ânsias, frustrações, fracassos, sofrimentos, iminentes perigos; e com esse fundo consideramos a vida, todas as coisas. Se há Deus, se não há, a natureza das relações, como superarmos ou ajustarmo-nos ao ciúme, à ansiedade, ao sentimento de culpa, ao desespero, ao sofrimento – todas essas questões consideramos com aquele fundo temporal. (Idem, pág. 89)
Ora, o que quer que consideremos com esse fundo, se desfigura; e quando é muito grande a crise que nos exige atenção, e a olhamos com os olhos do passado, atuamos neuroticamente, como o faz a maioria de nós, ou construímos para nós mesmos uma muralha de resistência a ela (à crise) (…) (Idem, pág. 89-90)
Pergunta: (…) Por que repetis sempre que no presente está o Eterno?
Krishnamurti: O presente é conflito e sofrimento, com um lampejo ocasional de fugaz alegria. O presente se entretece com o passado e com o futuro, num vaivém incessante, e, por isso, está o presente em constante agitação. (…) Como podeis compreender o passado, a não ser pelo seu resultado, o presente? (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 66)
(…) Segundo a maneira como considerais o presente (…) no qual vossa mente está condicionada, revelar-se-vos-á o processo do passado (…) Quando vos compreenderdes como agora sois, abrir-se-vos-á o rolo do passado. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 67)
É o presente da máxima importância; o presente, por trágico e doloroso que seja, é a única porta para a Realidade. O futuro é a continuação do passado, através do presente. Quando se compreendo o presente, transforma-se o passado. (…) (Idem, pág. 67-68)
Pensamos e sentimos em termos de tempo, de viver, de vir-a-ser, ou de não vir-a-ser, ou de morte, ou do prolongamento desse vir-a-ser para além da morte. O pensamento-sentimento move-se do conhecido para o conhecido, do passado para o presente, para o futuro (…) Somos prisioneiros do tempo, e como poderemos (…) conhecer a Realidade Eterna, na qual a vida e a morte são uma só coisa? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 76)
O tempo é um fenômeno muito estranho. Espaço e tempo são uma só coisa; um não existe sem o outro. (…) O tempo quase não tem significação para o selvagem, mas, para o homem civilizado, é de imensa significação. O selvagem esquece-se de um dia para outro dia (…) Para o cientista, o tempo é uma coisa, para o leigo, outra. Para o historiador, o tempo é o estudo do passado (…) (Comentários sobre o Viver, pág. 228)
Causa-efeito não é um processo único? Não há intervalo entre a causa e o efeito. Hoje é o efeito de ontem e a causa de amanhã; é um só movimento, um fluir contínuo. Não há separação, não há uma linha distinta entre a causa e o efeito; mas, interiormente, nós os separamos com o fim de vir-a-ser, alcançar nossos objetivos. Sou isto e me tornarei aquilo. Para me tornar aquilo, preciso de tempo – o tempo cronológico usado para fins psicológicos! (Idem, pág. 229)
Sou ignorante; transformar-me-ei, porém, em sábio. A ignorância a tornar-se sábia, é ignorância progressiva, apenas; porque a ignorância não pode tomar-se sábia, assim como a avidez não pode fazer-se não avidez. A ignorância é o próprio processo de vir-a-ser. (Idem, pág. 229)
Não é o pensamento produto do tempo? O saber é a continuação do tempo. O tempo é continuidade. A experiência é saber, e o tempo é a continuação da experiência, como memória. (…) A mente é a máquina do tempo. (…) O pensamento é sempre do passado; o passado é a continuidade do saber. O saber é sempre do passado (…) nunca está fora do tempo (…) Essa continuação da memória, do saber, é a consciência. (…) (Comentário sobre o Viver, pág. 229-230)
O ontem, servindo-se do hoje como passagem para o amanhã; o passado, fluindo através do presente para o futuro, é um só movimento de tempo e não três movimentos distintos. Conhecemos tempo cronológico e tempo psicológico – evolução e “vir-a-ser”. Há a evolução da semente à árvore, e há processo de “vir-a-ser” psicológico. O vir-a-ser psicológico implica tempo. Sou isto e me tornarei aquilo, servindo-me do tempo como passagem (…); o que foi se movimenta para tornar-se o que será. (…) O pensamento, pois, é tempo – o pensamento que foi e o pensamento que será, o que é o ideal. (…) A mente é a criadora do tempo, ela é tempo. (Reflexões sobre a Vida, pág. 120)
Que entendemos por continuidade? Que é que causa a continuidade? Que é que prende um momento a outro momento, como (…) as contas de um colar? O momento é o novo, mas “o novo” se absorve no velho e forma-se, assim, a cadeia da continuidade. (…)
O velho só pode reconhecer sua própria “projeção”; pode chamá-la “o novo”, mas não é o novo. O novo não é reconhecível; é um estado de não-reconhecimento, não associação. (…)O “experimentar” do novo só acontece na ausência do “velho”. A experiência e sua expressão é pensamento, idéia; o pensamento traduz “o novo” em termos de “velho”. É o velho que dá continuidade; o velho é a memória, a palavra, ou seja, tempo. (Reflexões sobre a Vida, pág. 121)
(…) O desejo é pensamento; o desejo forja a cadeia da memória. O desejo é esforço, ação da vontade. O acumular é ação peculiar do desejo; acumular é “continuar”. (…) O centro que acumula é o desejo (…) de mais ou de menos. Esse centro é o “eu”, colocado em níveis diferentes, conforme o condicionamento da pessoa. Toda atividade procedente desse centro, tem o fim de promover a continuidade desse mesmo centro. (…) (Idem, pág. 122)
(…) Todo movimento da mente, sendo temporal, impede a criação. O atemporal não pode coexistir com a memória temporal. O ilimitado não pode ser medido pela memória, (…) experiência. O Inefável, o Inominável só pode ter existência depois de cessar completamente a experiência, o conhecimento. Só a verdade liberta a mente do cativeiro em que mantém a si própria. (Idem, pág. 122)
Estamos, pois, examinando o tempo. (…) A mente que está em ação pode existir sem o tempo. (…) A mente que está em ação com uma idéia, um motivo, uma finalidade, uma fórmula, está enredada no tempo; sua ação, por conseguinte, não se completa e, portanto, dá continuidade ao tempo. Como sabeis, o tempo, para nós, é não só duração psicológica, mas também continuidade da existência. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 149)
Serei isso futuramente – amanhã ou no próximo ano. Esse “ser futuramente” está condicionado não só ao ambiente, à sociedade, mas também à reação a tal condicionamento (…) Quando uma pessoa diz: “Se hoje não sou feliz, se não sou rico interiormente, profunda, ampla, inexaurivelmente rico, eu o serei” – essa pessoa está na armadilha do tempo. (…) (Idem, pág. 149)
É possível a mente achar-se sempre em ação, diretamente, espontânea e livremente, de modo que nunca tenha um momento de tempo? Porque o tempo é pensamento periférico. Todo pensar é periférico, marginal (…) Pensamento é reação do acúmulo de memória, de experiência, de conhecimento; daí procede o pensamento, a reação ao passado. O pensamento jamais pode ser original. (Idem, pág. 150)
(…) Podeis usar palavras, que pertencem ao passado, expressar o original, mas o original não pertence ao tempo. Por conseguinte, para descobrir o original, deve a mente estar inteiramente livre do tempo – do tempo psicológico; da duração; da idéia de “serei”, “alcançarei”, “tornar-me-ei”. (Idem, pág. 150)
Assim, por havermos dividido a ação do tempo em passado, presente e futuro, por não ser a ação, para nós, completa em si mesma, mas por ser antes algo impulsionado por motivos, por medo, guias, recompensa ou castigo, nossas mentes são incapazes de compreender o contínuo todo. (…) Sempre que a ação nasce da plenitude e não da divisão do tempo, é ela harmoniosa e livre das malhas da sociedade, com suas classes, raças, religiões e posses. (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 45)
Nessas condições, o presente é utilizado pelo passado como uma passagem para o futuro. (…) O futuro é sempre um “vir-a-ser”; e, nessas condições, o presente, no qual tão somente pode haver compreensão, nunca é aprendido por nós. Enquanto há “vir-a-ser”, há conflito. E o “vir-a-ser” é sempre o passado a servir-se do presente, para ser, para alcançar seus fins. No processo desse “vir-a-ser”, fica o pensamento aprisionado na rede do tempo. E o tempo não é solução para os nossos problemas. (…) (O que te Fará Feliz?, pág. 103)
O tempo é uma ilusão, mas não o tempo cronológico, que é uma realidade. Por depender do tempo para efetivar a transformação interior, o pensamento enreda-se num círculo vicioso, porque, então, realmente não ocorre transformação nenhuma, já que (…) é apenas continuidade modificada do que existiu. (…) O tempo deve simplesmente findar para que ocorra mutação. Ela só se realiza ao negarmos o hábito, a tradição, as reformas, os ideais e todas as coisas transitórias. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 125)
(…) Existe realmente “amanhã”, psicologicamente? Ou o amanhã é criado pelo pensamento, porque este, percebendo a impossibilidade de uma mudança direta e imediata, inventa o processo da gradualidade? Vejo por mim mesmo (…) quanto importa promover uma revolução radical na minha maneira de viver, de pensar, de sentir, e nas minhas ações, e digo: (…) “preciso de tempo para isso” (…) É esse o tempo a que nos estamos referindo: a estrutura psicológica do tempo (…) O tempo é o passado, o presente e o futuro não marcados pelo relógio. (…) Estou preso nesse círculo. É a isso que chamamos “viver”, (…) tempo. (A Importância da Transformação, pág. 50)
No momento em que tendes o tempo, que acontece? Não estais enfrentando o desafio real e concreto, que está à vossa frente, a exigir ação imediata. Só atuais imediatamente ao sentirdes dor ou prazer intenso. (…) E a maioria de nós é incapaz de ver os fatos como são – o que é. O que é é o fato, ao qual nos chegamos com diferentes opiniões, idéias, juízos. Isto é, com o passado, nos abeiramos do fato presente; por conseguinte, criamos a contradição, ou falta de compreensão do fato. (A Suprema Realização, pág. 49-50)
(…) Ambição implica “mais”; “mais” implica tempo; e tempo significa “chegar”, “alcançar”. Negar o tempo é estar livre da ambição. Não me refiro ao tempo cronológico; esse não se pode negar, porque, se o fizermos, podemos perder o ônibus. Mas o tempo psicológico, que criamos para nós mesmos, a fim de nos tornarmos algo, interiormente – esse pode-se negar. E isso significa, realmente, morrer para o amanhã, sem desesperar. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 17)
O presente é o eterno. No tempo não é possível o conhecimento do Atemporal. O agora é perpétuo; ainda que fujais para o futuro, estará sempre presente o “agora”. O presente é a porta do passado. Se não compreendeis o presente, agora, ireis compreendê-lo no futuro? O que agora sois, continuareis a ser, se não compreenderdes o presente. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 45)
Não sei se já refletistes nisto. Se o amanhã não existe, realmente, psicologicamente, interiormente, então vossa atenção se acha, toda inteira, no presente; e vossa atitude perante a vida é perfeitamente integrada, (…) inteiriça, não fragmentária. (…) Ao perceberdes o significado dessa idéia da existência de um amanhã (…); ao perceberdes a verdade de que não existe amanhã, psicologicamente, então toda a estrutura cerebral, mental, emocional, psicológica, sofrerá uma tremenda transformação. A nosso ver, é essa a única revolução possível (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 93-94)
Porque o que constitui o tempo é a ocupação da nossa mente com a memória, é a capacidade de distinguir diferentes lembranças. E é possível à mente permanecer fora do tempo, fora do conhecimento, que é memória, que é experiência, palavra, símbolo? (…) Não há então, no centro, uma revolução, uma transformação fundamental? Porque então a mente já não está lutando para alcançar um resultado, acumular, chegar a um fim. Então, não há mais temor. A mente, em si mesma, é o desconhecido (…) é o novo, “o não-contaminado”. Por conseguinte, é o Real, o incorruptível, independente do tempo. (Poder e Realização, pág. 73)
Temos, pois, de examinar a questão do pensamento, do “processo” do tempo – do tempo como duração, existência – existência do desejo. Porque é o desejo que impõe o padrão, como memória, ao qual nos ajustamos. Por conseguinte, ajustamento, desejo, pensamento e tempo estão relacionados entre si. Se não se compreende um deles, não se pode compreender os demais. (A Suprema Realização, pág. 38-39)
(…) Pensamos que, no processo do tempo, no crescer e transformar-se, o “eu” se tornará, no fim, realidade. Tal é nossa esperança, nossa anelo: que o “eu” se tornará perfeito através do tempo. (…) (Claridade na Ação, pág. 142)
Pois bem, para verificar se existe essa coisa – o eterno – é preciso compreender o que é o tempo. O tempo é uma coisa verdadeiramente extraordinária (…) Refiro-me ao tempo como continuidade psicológica. É possível vivermos sem essa continuidade? O que dá a continuidade? O que dá a continuidade é, obviamente, o pensamento. (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 114)
O tempo, que é continuidade, nunca pode achar o que é eterno: a eternidade não é continuidade. O que tem duração não é eterno. A eternidade está no momento presente. A eternidade está no agora. O agora não é reflexo do passado. (O que te Fará Feliz?, pág. 129)
(…) E compete a todos libertarem-se, não aos poucos, do processo do tempo, que é o processo de acumulação (…) o desejo de “mais”. Tal só é possível quando compreendemos todas as tendências da mente, como está ela constantemente em busca de segurança, de permanência, quer nas crenças, (…) quer no saber. (…) É então que começa a liberdade, pois a mente já não adquire, já não acumula. (A Renovação da Mente, pág. 30)
Positivamente, o processo do tempo não é revolucionário. No processo do tempo não há nenhuma transformação, há somente uma continuidade e nenhum findar. (…) Só com a completa cessação do processo do tempo, da atividade do “ego”, vem uma revolução, uma transformação, o nascimento do novo. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 125)
Uma vez cônscia da totalidade desse processo do “eu”, na sua atividade, que deve a mente fazer? Só com a renovação, (…) a revolução – não pela evolução, (…) não pelo “vir-a-ser” do “eu”, mas pela completa extinção do “eu” – só assim o novo se apresenta. O processo do tempo não pode trazer-nos o novo, pois o tempo não é o caminho da criação. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 125)
(…) Essa luta, esse constante esforço de ajustamento a um padrão, desenrola-se sempre dentro do âmbito da mente (…) Ora, só ocorrerá uma transformação radical quando, por assim dizer, saltamos do processo do tempo para algo que não está no tempo. (Claridade na Ação, pág. 25)