Sabemos agora o que é temor? (…) O temor, pois, é a não aceitação do “que é”. Como posso eu, que sou um feixe de todas essas reações, lembranças, esperanças, depressões, frustrações, (…) o resultado do movimento da consciência, detido ante um obstáculo, passar além? (…) Sabemos que, quando não há obstáculo, há uma alegria extraordinária. (…) (Quando o Pensamento Cessa, pág. 64)
E não sabeis que – quando a mente está completamente livre, desembaraçada, quando o centro do reconhecimento, como “eu”, não está presente – não sabeis que se experimenta certa alegria? Já não experimentastes esse estado, em que está ausente o “eu”? (…) Por certo, para se encontrar a ação que não é resultado de isolamento, necessita-se ação independente do “eu”. (…) (Idem, pág. 64)
Será possível o “eu” ficar de todo ausente, agora? Quais os ingredientes, os requisitos necessários? (…) A compreensão do “eu” requer grande soma de inteligência, de vigilância, de atenção, incessante observação, para que não nos escape. Quando digo: “quero dissolver isto”, é também experiência do “eu”, que, desse modo, se fortalece. Como é possível o “eu” não experimentar? Pode-se ver que o “estado de criação” não é, em absoluto, experiência do “eu”. Há criação quando o eu não está presente, porque a criação não é intelectual, não é autoprojeção, e sim uma coisa que transcende toda experiência. É possível, então, achar-se a mente de todo tranqüila, num estado de não-reconhecimento, ou de não-experimentar, em que possa se verificar a criação, isto é, num estado de inexistência, de ausência do “eu”? É esse o problema, (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 78)
Em momentos de intensa criação, (…) de grande beleza, há uma tranqüilidade absoluta; em tais momentos verifica-se uma ausência completa do “ego” e todos os seus conflitos; é essa negação – a forma suprema do pensar-sentir – que é essencial para alcançarmos o estado de potência criadora. Mas são raros, para a maioria de nós, esses momentos em que se transcendem o pensador e o pensamento; (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 88)
A alegria é espontânea, não procurada, nem convidada, e quando a mente a analisa, para cultivá-la ou recapturá-la, então não é mais alegria. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 117)
Quando estais alegre, feliz, no momento em que vos tornais cônscio de estardes feliz, já não estais feliz. Já notastes isso? (…) No momento em que vos identificais com a felicidade, acabou-se a felicidade. Ela é então, apenas, uma lembrança. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 197)
Mas a felicidade não pode ser buscada; ela é um resultado, (…) A felicidade vem sem ser chamada; e, no momento em que vos tornais cônscio de ser feliz, já não sois feliz. (…) Tornar-se consciente de ser feliz, ou buscar a felicidade, é acabar com a felicidade. Só há felicidade quando o “eu” e suas exigências foram postos à margem. (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 65)
(…) No momento, porém, em que dizeis “estou alegre”, sinto alegria, lá se foi o sentimento. Compreendeis? No momento em que dizeis “sou feliz”, não sois feliz. (Debates sobre Educação, pág. 719)
(…) Quando sentis subitamente muita alegria por causa de nada em particular, estais fruindo a liberdade de sorrir e ser feliz. Mas, se vos tornais cônscio disso, nesse mesmo momento o perdeis (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 65)
(…) No momento em que estais cônscio de que sois humilde, já não sois humilde. A felicidade não é coisa de se perseguir; ela vem. Se a procurais, ela se esquiva. (Novos Roteiros em Educação, pág. 109)
Quando vos tornais cônscios de vossa humildade, ela não desaparece? Existe virtude quando deliberadamente praticamos a virtude? Esse praticar torna mais forte a atividade egocêntrica, a qual põe termo à virtude. No momento em que estamos cônscios de ser felizes, deixamos de o ser. (…) (Diálogos sobre a Vida, 1ª ed., pág. 42)
Com efeito, (…) Considerai isto: A humildade pode ser cultivada? Se se cultiva a humildade, ela é vaidade. Se cultivais o percebimento de “o que é”, não há percebimento. (…) Mas, se tentais exercitar-vos em prestar atenção ao que é, o que está em função é o pensamento, e não o percebimento. (Fora da Violência, pág. 52)
A maioria de nós não sabe realmente o que significa ser humilde (…) A humildade não é uma virtude cultivável. No momento em que se cultiva a humildade, já não há humildade. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 212)
(…) O homem que diz: “devo esquecer-me de mim mesmo na virtude e, portanto, vou praticar a virtude”, está vestindo o seu “eu” com a capa da virtude; é o “eu” disfarçado de “virtude” (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 58)
A virtude não pode ser praticada. No momento em que estamos cônscios de ser virtuosos, está destruída a virtude. A virtude vem sem disciplina, sem esforço, sem imitação, sem exercício, (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 88)
(…) Ao contrário, porém, eu penso que no momento em que uma pessoa se torna cônscia de que sabe, já não sabe. Quando uma pessoa se torna cônscia de sua virtude, sua humildade, já não é virtuosa (…) (Verdade Libertadora, pág. 26-27)
(…) Quem tem certeza é obstinado, irrefletido. Quem sabe, não sabe. O homem que se torna cônscio do próprio desprendimento, já não é desprendido; (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 71)
(…) Positivamente, o homem que diz “eu sei”, não sabe. Entretanto, o homem que diz “não sei”, acha-se num processo de investigação (…) (Visão da Realização, pág. 95) 416
(…) Falamos a respeito do amor; dizemos que amamos pessoas, nossos filhos, (…) esposas (…); mas, no momento em que estou consciente de que amo, entrou em atividade o “eu” e, conseqüentemente, o amor deixou de existir. (Quando o Pensamento Cessa, pág. 211-212)
(…) E no momento em que o pensamento reconhece o silêncio, isso já não é silêncio; é algo pertencente ao passado, (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 31)
A quietação, o silêncio, não é produto do pensamento. O silêncio existe fora do campo da consciência. Não se pode dizer: “Experimentei um estado de silêncio”. Se o tendes experimentado, isso não é silêncio. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 140)
(…) Quando a mente está cônscia de estar tranqüila, já não está tranqüila; quando a mente está cônscia de ser não-ávida, de estar livre da avidez, ela reconhece a si mesma nas vestes da não-avidez, mas isso não é tranqüilidade. (…) (Solução para os nossos Conflitos, pág. 88)
E temos (…) a questão do “observador e coisa observada”. Se há um “vós” que experimenta o silêncio, não há silêncio. No momento em que percebeis que sois feliz, já não há felicidade. No momento em que dizeis: “Encontro-me num extraordinário estado de humildade”, acabou-se a humildade. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 31)
(…) Ser simples não é uma conclusão, um conceito intelectual pelo qual lutamos. Só pode existir a simplicidade quando cessa o “ego” e suas acumulações. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 249)
(…) Quando pensais em Deus, vosso Deus é “projeção” (…) Só se pode pensar no conhecido; não podeis pensar no desconhecido; (…) No momento em que pensais no desconhecido, ele não é mais que o conhecido, de vós próprio projetado. (…) (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 15-16)
Mas essa “novidade” não é para ser reconhecida como “o novo”. No momento em que reconheceis o novo, ele já se tornou velho, já não é “o novo”. (…) Ou temos “o novo”, ou não o temos. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 123-124)
(…) É o contentamento um resultado, uma coisa para ser alcançada? (…) logo que desejo alcançar o contentamento, já fiz nascer o descontentamento. (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 27)
Sem dúvida, no momento em que estou cônscio de estar contente, fico descontente (…) (Por que não te satisfaz a Vida?, pág. 28)
Existe, por certo, um processo de compreender o descontentamento; e, ao compreendê-lo, vereis que o descontentamento é a natureza mesma do “eu”. O “eu” é o centro do descontentamento (Idem, pág. 29)
Quando um guru diz que sabe, ele não sabe. Quando um guru oriental ou um homem do ocidente diz: “Eu alcancei a iluminação” – então você pode estar certo de que ele não é um iluminado; (…) (Perguntas e Respostas, pág. 70)
As chamadas pessoas iluminadas não são iluminadas, pois no momento em que dizem: “Estou iluminada”, não estão. Trata-se de uma vaidade delas. (…) (Perguntas e Respostas, pág. 103)
(…) Quando um homem se diz inteligente, é bem evidente que é estúpido. Nessas condições, aquela parte da mente que tem consciência de si mesma como muito inteligente, é, de fato, pouco inteligente; (…) (A Arte da Libertação, pág. 141)
(…) O que é inteligente não tem consciência de si mesmo; e no momento em que digo: “sou inteligente”, desço ao nível da estupidez (…) Mas quando uma mente reconhece que é estúpida, (…) esse fato é de significação extraordinária; se digo que sou mentiroso, já começo a falar a verdade. (…) (Idem, pág. 142)
Em geral, pensamos que somos muito inteligentes. Pensamos ter alguma faceta brilhante. Ora, somos inteligentes? Ao contrário, somos estúpidos, mas nunca reconhecemos a nossa estupidez, a falta de sensibilidade; (…) A inteligência pode ter consciência de si mesma? No momento em que digo “sou muito inteligente” é bem evidente que sou estúpido. (…) (A Arte da Libertação, pág. 141)
Nessas condições, aquela parte da mente que tem consciência de si mesma como muito inteligente é, de fato, pouco inteligente; (…) Sem dúvida, quando a mente estúpida pensa que contém em si uma soma de inteligência, ainda aqui temos a ação de uma mente estúpida. (…) (Idem, pág. 142)
Em geral, não gostamos de reconhecer que somos estúpidos; (…) Como pode um homem pouco inteligente conhecer uma coisa realmente inteligente? O que é inteligente não tem consciência de si mesmo; e no momento em que digo: “sou inteligente”, desço ao nível da estupidez – como o está fazendo a maioria de vós. (…) O que de fato acontece é que quando um homem estúpido entretém o seu pensamento com coisas brilhantes, rebaixa essas coisas brilhantes a seu próprio nível. (A Arte da Libertação, pág. 142)
Quando uma mente pensa em si mesma como sendo brilhante, ou ela é presunçosa, cônscia de si mesma, e portanto estúpida, ou é estúpida e pensa que é muito inteligente e, por conseguinte, é ainda estúpida. (…) Se puderdes enfrentar o fato de que sois estúpido, então há começo de esclarecimento. (…) Mas, no momento em que reconheceis o fato de que sois estúpido, dá-se uma transformação imediata. (Idem, pág. 142-143)