Índice
PREFÁCIO DOS EDITORES
COMPREENDENDO O SIGNIFICADO DE APRENDER
PROPORCIONANDO UM TIPO DE MENTE COMPLETAMENTE DIFERENTE
É POSSÍVEL VIVER SEM CONFLITO?
A TRANSFORMAÇÃO INTERIOR DOS SERES HUMANOS
MEU RELACIONAMENTO COM O ALUNO É CONCEITUAL?
É POSSÍVEL TER INTELIGÊNCIA SEM TER EXPERIÊNCIA?
O ATO PURO DE APRENDER
O ATO DE SE IMPORTAR
SER TOTALMENTE RESPONSÁVEL
COMO EDUCAR O ALUNO PARA QUE ELE NÃO SE FIRA?
É POSSÍVEL AJUDAR O ALUNO A ESCUTAR?
SER DILIGENTE É DAR ATENÇÃO COMPLETA
Se você estivesse preocupado com a educação, eu sugeriria primeiramente ao pai e ao educador que descubram a arte de escutar, não de aceitar, negar, mas sim escutar. Escutar seus preconceitos, seu julgamento. Assim você começa a aprender a escutar. É o primeiro tópico que eu abordaria com o aluno, com o pai, com o educador. Eu diria, “Veja, vamos descobrir o que significa escutar. Você pode escutar sem interpretar? Você pode escutar sem comparar? Você pode escutar sem toda sua esperteza intelectual? Apenas escutar?” É uma grande arte, não é? Você escuta respeitosamente a um homem que você pensa ter conhecimento, mas você não escuta com o mesmo respeito a um homem que é supostamente ignorante. Assim, na arte de aprender, você começa a descobrir os vários graus e as capacidades de escutar, que mostram que seus próprios preconceitos, suas próprias ambições, seus próprios motivos, sua própria vaidade, todos estão envolvidos no ato de escutar.
Eu conversaria com o aluno. Eu diria, “Esqueça-se de tudo. Vamos descobrir o que significa escutar os pássaros, o vento”. Lá fora primeiro. Comece objetivamente e então se aproxime cada vez mais. “Você consegue escutar a si mesmo, seus pensamentos, suas atitudes, suas opiniões, seu gostos e suas aversões, o todo?”
Isso significa que o aluno, o educador e os pais devem ter lazer. E a escola é o lugar para o lazer. É por isso que os alunos vão à escola. É o que nós devemos fornecer.
Vocês sabem, toda nossa educação consiste, se observarmos nas escolas, faculdades e universidades, em recolher a informação conhecida como conhecimento e em agir habilmente com esse conhecimento em uma sociedade corrupta. O conhecimento se tornou extremamente importante. Eu me pergunto se vocês ouviram o que Bronowski disse sobre a acumulação de conhecimento, a democracia do conhecimento e a necessidade de ser extremamente honesto com esse conhecimento, porque o conhecimento mudará o homem. Estamos questionando isso. Qual é o lugar do conhecimento na transformação do homem e da sociedade? O homem aparentemente viveu por milhões de anos, e fundamentalmente não mudou. Vá à Índia, ao Japão, vá a Europa, venha aqui. Nós somos todos os mesmos: gananciosos, invejosos, antagônicos, violentos, estúpidos. A humanidade não mudou profundamente. Nós podemos ter “podado a árvore” por fora, mas de maneira intrínseca, básica, fundamental, não houve transformação do homem. E nós sentimos — ao menos eu sinto tremendamente — que o homem deve transformar a si mesmo, se não a sociedade, a coisa inteira, cairá aos pedaços.
Conversamos com vários padres sobre o tema, com políticos, com alguns membros de ministérios de governos de diferentes países. Eles recusam a ideia. Dizem, “É desmedidamente utópico, não é algo prático. Temos que atender eleitores que nem mesmo pensarão sobre este absurdo.” Assim, todos recusam. Falei com monges na Índia e na Europa, monges que fazem parte da igreja, monges que deixaram seus monastérios, monges que ainda estão em monastérios, com os principais Jesuítas, e com alguns dos principais políticos e advogados. Para eles, esta cultura, esta sociedade — mesmo que eficiente e capaz em determinados sentidos, tecnologicamente, na indústria — é essencialmente produto do conflito, que significa competição. Um pintor ou um músico que compita com o outro não é um músico, não é um pintor. Um homem que ame pintar ou que ame a música não compete, isso surge dele.
Então podemos nós, como um grupo de pais e professores, ter uma escola com crianças que compreenderão o processo do conflito, os resultados do conflito, que é a negação do amor? Apesar de todos seus benefícios sociais e econômicos, virarão suas costas para o conflito e viverão de maneira diferente?
Então é preciso perguntar: aprender é meramente a aquisição de conhecimento? Ou há um diferente significado para aprender? Se eu acumular conhecimento para viver hábil e eficientemente em uma sociedade que é corrupta, o conhecimento será útil. No entanto, esse conhecimento mudará minha relação com minha esposa, com meu vizinho, com o mundo? Aparentemente, até o momento, isso não aconteceu. Então qual é o lugar do conhecimento? Precisamos adentrar o que está implícito no aprender. Como entendemos agora, é a reunião de informações, acumulo de conhecimento e agir com isso. Isso não transformou o homem. Pode ter mudado o homem, mas não o transformou radicalmente. Então, o conhecimento tem seu lugar, mas não pode transformar o homem. Assim, outra energia é necessária para transformar o homem.