ÍNDICE
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
ATRAVÉS DE UM TIPO DIFERENTE DE EDUCAÇÃO, UM NOVO SER HUMANO PASSA A EXISTIR
QUAL A RELAÇÃO DE COOPERAÇÃO E AUTORIDADE COM A LIBERDADE?
UMA ESCOLA DESSE TIPO É NECESSÁRIA, PORQUE O MUNDO ESTÁ EM CAOS
UMA NOVA CULTURA SURGE SOMENTE COM A RELIGIÃO
VOCÊ APRENDERÁ SOBRE SI MESMO SOMENTE QUANDO NÃO HOUVER AUTORIDADE
PODEMOS CRIAR UMA ATMOSFERA DE TOTAL NÃO-AÇÃO?
TEMOS DE GERAR UMA MUDANÇA PSICOLÓGICA EM NÓS MESMOS
A ARTE DE OUVIR TALVEZ SEJA TODO O MILAGRE DA EDUCAÇÃO
COMO CONVIDAR A CONFIANÇA?
FONTES
Isso está claro. Então a escola principalmente – principalmente não; a única coisa é mudar a mentalidade, a psiquê do estudante. Se concordarmos que é a coisa essencial na educação, então veremos, agora, como realizar isso. Vamos debater um pouco.
As crianças já chegam muito condicionadas, sejam elas de 5 ou 12 ou 18 anos. Elas são grosseiras, especialmente nos Estados Unidos; elas têm uma tremenda energia, não sabem o que fazer; querem imitar as pessoas mais velhas. Tudo isso acontece. Bem, como eu, enquanto professor aqui, lidaria com o problema de mudar sua mente, sua psiquê? Como devo fazer isso? Como vocês propõem fazer isso?
Então, temos um tremendo problema se realmente queremos entrar na questão do que é a verdadeira educação além do lado acadêmico e tecnológico. Temos de perguntar se a verdadeira educação é possível para um ser humano, condicionado através dos séculos, com todo o seu cérebro estruturado para a sobrevivência a qualquer custo, querendo liberdade para fazer o que quer através da atividade individual autocentrada. Tudo isso é o que encontramos. Aqui estamos tentando começar uma escola onde a criança, o aluno já vem condicionado. Como receber esse aluno e lhe transmitir, verbalmente e não-verbalmente, nossa intenção? Não teríamos de ser muito claros sobre o que é a educação correta? E, devido a essa clareza – embora talvez não sejamos descondicionados – no relacionamento com o aluno, tanto o educador como o educando podem ser descondicionados? Como vamos realizar isso?
Q: Ouvi dizer que existem duas visões da situação de ensino. Uma é de que o aluno está vazio e o trabalho do professor é preenchê-lo; e a outro é de que o aluno já sabe de tudo, só que está tudo encoberto, e o trabalho é descobrir, ajudar o aluno a descobrir. E parece que as duas [visões] criam diferentes papéis de professor. No primeiro caso, você está colocando mais conhecimento ou informação no aluno vazio. No outro caso, é quase um…
K: Despertar?
Q: Sim, um tipo de despertar. Nossa educação ocidental é toda baseada no professor que preenche o aluno.
K: Isso é o que está acontecendo no Oriente também, na Índia, no Japão, na China. Mesmo no mundo comunista, trata-se de preencher o estudante, para que ele possa ajustar-se à sociedade, competir pelo melhor emprego e assim por diante. Isso está em todo o mundo, pelo menos até onde eu sei, até onde eu vi.
Q: Pode-se argumentar da mesma maneira que a criança vem ao mundo como um ser plenamente consciente, e que essa consciência fica encoberta.
K: Mas isso é verdade?
Q: Para mim, essa ideia tem muito poder.
K: Ah, não. É factual? Não se trata do que você e eu gostamos ou deixamos de gostar. É verdade que uma criança não precisa de nenhuma informação porque já está tudo ali? Você está presumindo muito, não?
Q: Sim, e eu tive algumas experiências pessoais que parecem torná-lo um fato para mim. Mas isso pressupõe muita coisa.
K: Senhor, desculpe. Tomemos alguém como Bach, Mozart ou Beethoven. Eles foram tremendos gênios em suas vidas.
Eles aprenderam um pouco de técnica, mas estava tudo lá, borbulhando. É assim com todas as crianças? Seria maravilhoso se fosse assim.
Q: Creio que o que há não é exatamente o conhecimento específico de como tocar música, mas um tipo de capacidade.
K: Ah, você está falando de capacidade lá na criança, no aluno. Então você diria que a função do professor, educador, é cultivar essa capacidade em toda a sua extensão?
Q: Sim.
K: Isso significa que o educador tem que estar extraordinariamente desperto para a capacidade de cada aluno.
Q: Sim, eu diria que sim.
Senhor, existe um aprendizado além de acumular conhecimento? Além da acumulação – não do conhecimento – vamos colocar assim, além da acumulação? Eu sei que aquilo é uma camisa amarela porque me disseram e eu a reconheço como amarela porque todos nós concordamos em chamar isso de amarelo. Isso é um aprendizado, aprendizado que é acumulativo. Agora, eu me pergunto se existe algum outro tipo de aprendizado. Eu me pergunto. Eu digo, “Sim, isso é um Picasso, um Utrillo ou um Van Gogh”, e assim por diante. Eu coloco tudo isso nessa categoria de adquirir conhecimento. E existe alguma outra forma de aprendizado? Qual é a função de um professor ou educador se não há nenhuma outra forma de aprender além do acúmulo de conhecimento? É o que o atual sistema educacional está fazendo, entregando milhões e milhões de pessoas com conhecimento especializado, entregando engenheiros e cientistas como máquinas em esteiras industriais. E se eu tenho um filho e o mando para Ojai, digo a mim mesmo: o que estão ensinando a ele e o que ele está aprendendo? A se colocar na esteira rolante? E se eu investigar isso, posso ter um sentimento, talvez irracional, mas um sentimento de que se apenas o ensinarmos e o ajudarmos a ser nada, creio que produziremos um gênio.