- Busca da Verdade; Meios de Fuga, Busca sem Motivo
Vejamos, pois, se nos é possível examinar juntos este problema real da busca, (…). Pela busca, é possível achar algo novo? Por que buscamos, e que é que buscamos? Qual o motivo, o processo psicológico que nos impele a buscar? (…). Sem a compreensão desse estímulo, a mera busca será muito pouco significativa, (…). Mas, se pudermos descobrir todo o mecanismo desse processo de busca, então é bem possível que cheguemos a um ponto em que não há mais busca – e talvez seja esse o estado necessário para o aparecimento de algo novo. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 21-22)
(…) Por certo, aquilo que é novo não pode ser reconhecido. O reconhecimento só ocorre através da memória, da experiência acumulada a que denominamos saber. Se reconhecemos uma coisa, essa coisa não é nova, (…) tudo o que achamos é coisa já experimentada, procedendo portanto do “fundo”, da memória. (…) Deus, a verdade, (…) não é reconhecível, deve ser algo totalmente novo; (…). (Idem, pág. 23)
Não vos parece importante investigarmos o que é que estamos buscando, e por que buscamos alguma coisa? Por que existe em nós esta extraordinária ânsia de procurar e achar, e por que desperdiçamos tanta energia nesta luta? (…). É bem provável que a mente só possa descobrir o que se acha além das medidas do tempo, quando não está mais a buscar – mas isso não significa deva ela estar contentada, satisfeita. (…) (Visão da Realidade, pág. 215)
(…) E por que é que buscamos? É por nos sentirmos muito perturbados, muito descontentes com o que somos? Se somos feios, queremos ser belos; se somos ambiciosos, queremos preencher a nossa ambição; se temos talento, queremos tornar esse talento mais vigoroso; (…) se somos medíocres, queremos brilhar; se somos intelectuais, queremos dar significação à vida; se somos religiosos, queremos achar o que reside além da mente, indagando, rogando, rezando, sacrificando, cultivando, disciplinando, etc. (…). (Idem, pág. 218)
Esse esforço intenso, esse processo de ajustamento é a nossa vida, (…). Nossa vida é um perpétuo campo de batalha, de manhã à noite, e, ignorando a significação dessa luta, recorremos a outra pessoa, (…). Entregamo-nos às crenças, aos livros, aos guias (…).(Visão da Realidade, pág. 218-219)
Assim, pois, que é que desejamos? Vendo-nos atribulados, queremos paz, vendo-nos em conflito, queremos acabar com o conflito. (…) Lutamos para obter uma coisa, e, depois de obtê-la, seguimos avante, querendo mais. Nossa vida é uma série de exigências de conforto, de segurança, posição, preenchimento, felicidade, reconhecimento, e temos também raros momentos em que desejamos descobrir o que é a verdade, o que é Deus. (…) (Idem, pág. 219)
(…) Andamos de um padrão para outro, de uma gaiola para outra, de uma filosofia ou sociedade para outra, esperando encontrar a felicidade, (…) nas relações com pessoas, (…) de um retiro tranqüilo (…). E achamos que, se não buscarmos, iremos deteriorar-nos, estagnar-nos (…). (Idem, pág. 219-220)
Ora, não vos parece de todo fútil essa busca? Estar cativo na gaiola de dada disciplina, o ser impelido de uma gaiola, de um sistema, de uma disciplina para outra, isso, evidentemente, não tem significação alguma. Assim sendo, devemos investigar (…) por que buscamos. (…) (Idem, pág. 220)
Ora, pode-se perceber e compreender imediatamente que é vã toda busca em que há “motivo”? (…) A verdade não se acha no futuro, e se (…) descobrirdes a inutilidade da vossa busca, então esse próprio ato de escutar é o experimentar da verdade, e a busca cessará então. Vossa mente já não estará subordinada a “motivos”, intenções. (Idem, pág. 221-222)
Nessas condições, a questão não é de como libertar a mente do “motivo”. A mente não pode (…) libertar-se do “motivo” porque a mente, em si, é causa e efeito, é resultado do tempo. (…) Mas se puderdes escutar e ver a verdade de que, enquanto houver “motivo” na busca, essa busca é toda vã, sem significação, conduzindo apenas a mais aflições e sofrimentos, (…) vereis que a vossa mente susta a busca, porque já não tem “motivo” algum. (…) (Idem, pág. 222)
Percebestes, por vós mesmos, a futilidade desta eterna busca com um “motivo” e, por conseguinte, a vossa mente está silenciosa, quieta, não há movimento algum de busca; e essa total tranqüilidade da mente pode ser o estado em que se torna existente o atemporal. (Idem, pág. 222)
Comecemos pelo que está perto, para irmos longe. Que entendeis por “busca”? Estais em busca da Verdade? E ela pode ser achada pela busca? (…) Busca implica conhecimento prévio, implica algo que já se sentiu e conheceu. (…) A verdade é algo que podemos conhecer, apanhar e guardar? O conhecimento que dela temos, não é uma “projeção” do passado e portanto (…) simples lembrança? (…) E a mente não deve estar tranqüila para que a Realidade possa existir? A busca é esforço para ganhar o mais ou o menos (…); e enquanto a mente for o ponto de concentração, o foco do esforço, do conflito, pode ela estar tranqüila alguma vez? Pode a mente tornar-se tranqüila por meio de esforço? (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 76-77)
Veremos. Investiguemos a verdade, em relação à busca. Para o buscar, necessita-se da entidade que busca, separada da coisa buscada; e existe essa entidade separada? O pensador, o experimentador, é diferente ou distinto de seus pensamentos e experiências? (…) Temos, pois, de compreender a mente, o processo do “eu”. Que é essa mente que busca, que escolhe, que tem medo, que nega e justifica? Que é o pensamento? (Idem, pág. 77)
A palavra “buscar” – tentar alcançar, descobrir – implica que já conhecemos mais ou menos o que desejamos achar. Ao dizermos que estamos buscando a verdade, ou Deus, (…) já devemos ter na mente a respectiva imagem ou idéia. (…) Na meditação, a primeira coisa que se percebe é a inutilidade do buscar; porque a coisa buscada é predeterminada pelo nosso desejo; (…). (Fora da Violência, pág. 77-78)
A verdade não é uma coisa que se possa experimentar. A verdade não pode ser buscada e achada. Está fora do tempo. E o pensamento, que é tempo, nenhuma possibilidade tem de buscá-la e “pegá-la”. (…) Quando a mente está a buscar uma experiência, por mais maravilhosa que seja, isso significa que o “eu” a está buscando – o “eu”, que é o passado, com todas as suas frustrações, aflições, esperanças. (A Questão do Impossível, pág. 72)
(…) Esse estado psicológico que cessa de buscar a experiência não significa paralisia mental; ao contrário, é a mente aditiva, acumulativa, que começa a definhar. Acumular é um ato mecânico, repetitivo; tanto a renúncia quanto a mera aquisição são atos mecânicos de imitação. Torna-se livre a mente que destrói este mecanismo de acumulação e defesa; dessa maneira ela se torna indiferente ao ato de experimentar. (Diário de Krishnamurti, pág. 51)
Enquanto existir uma entidade a buscar e uma coisa a ser buscada, tem de existir o experimentador, aquele que reconhece e que constitui o núcleo (…) egocêntrico. Desse centro se originam todas as atividades, nobres e ignóbeis: desejo de riquezas e poder, (…) impulso de buscar a Deus, (…). (Diálogos sobre a Vida, 1ª ed., pág. 46)
Quando a mente detém a busca por ter compreendido o total significado da busca, não cairão por si mesmas as limitações que ela a si própria impôs? E ela não se torna então o Imensurável, o Desconhecido? (Idem, pág. 47)
Vós sois simples e ignorante? Se realmente o fôsseis, encontraríeis um grande deleite no iniciar a verdadeira busca; (…) A sabedoria e a verdade vêm ao homem que diz, verdadeiramente: “Sou ignorante, não sei”. São os simples, os inocentes, e não os que estão repletos de saber, que verão a luz, porque eles são humildes. (Reflexões Sobre a Vida, pág. 140)