- Deus, Nomes, Atributos: Absoluto, Supremo, Inefável
Pergunta: Que é Deus?
Krishnamurti: Conheceis o aldeão, o simples; para ele Deus é aquela pequena imagem, diante da qual deposita flores. Povos primitivos chamam o trovão seu Deus. (…) Há gente na Índia, atualmente, que adora árvores. (Debates sobre Educação, pág. 137)
Ides a um templo. Lá vedes uma imagem suave, enfeitada de flores, e fazeis puja diante dela. Podeis ir mais além e criar uma imagem na vossa mente, uma idéia nascida da vossa tradição, do vosso fundo; e a essa imagem chamais vosso Deus. (…) Isso é Deus? Ou Deus é algo inimaginável, imensurável pela mente? (Idem, pág. 137)
Deus é algo completa e totalmente insondável por nós, e Ele se manifesta quando está quieta a nossa mente, sem projetar, sem lutar. Quando a mente está tranqüila, tem-se então a possibilidade de saber o que é Deus. (Idem, pág. 137-138)
O Deus por vós inventado não é Deus. A coisa feita pela mão, a imagem do templo, não é Deus, e também a coisa “feita” por vosso pensamento não é Deus. E é disso que viveis: da imagem feita pela mão ou pela mente. (O Novo Ente Humano, pág. 151)
Mas, se realmente desejais investigar se existe ou não uma realidade atemporal, fora do campo do pensamento, cumpre-vos, então, compreender a natureza do pensamento. Mas, se meramente perguntais: “posso achar Deus?”, podeis achá-lo, (…) mas não será a Verdade, (…) o Real. (Idem, pág. 151)
Minha doutrina difere (…). Eu nunca disse que não há Deus. O que eu disse é que só existe Deus conforme se manifesta em cada um de nós, e que, quando houverdes purificado aquilo que está dentro de vós mesmos, achareis a Verdade. É claro que Deus existe; mas não vou empregar a palavra Deus, porquanto ela assumiu um significado muito especial e estreito.
Para uns ela sugere um punho possante (…); para outros, um ser de longas barbas; para outros, uma Inteligência Onipotente, Onisciente e Suprema. Isso eu prefiro chamar Vida, porque nos aproxima mais da Verdade. (…) (Que o Entendimento seja Lei, pág. 11)
Pergunta: Que pretendeis ao dizer que não há Deus?
Krishnamurti: Eu nunca disse que não há Deus. Tenho dito muito claramente. Para descobrir se há ou não há Deus, é necessário abolir, apagar da mente todo e qualquer conceito relativo a Deus. (…) precisais apagar da mente todas as “informações” que tendes a respeito de Deus. (A Mutação Interior, pág. 69)
As pessoas que vos deram tais “informações” podem estar muito enganadas; tendes de descobrir tudo por vós mesmo. E, para o descobrirdes por vós mesmo, deveis livrar-vos de todas as autoridades, compreender a estrutura total (…) (Idem, pág. 69)
Se não há compreensão de tudo isso, a mera busca daquilo que chamais Deus nada significa. Deus é algo extraordinário, não imaginável por nenhuma espécie de crença. Vós tendes de descobri-lo. (…) Para descobrirdes, deveis primeiramente estar livre (Idem, pág. 69-70)
Pergunta: Pode explicar o que é Deus?
Krishnamurti: Que entende você por Deus? Eu jamais emprego a palavra “Deus” para indicar algo que não seja Deus. O que o pensamento tem inventado não é Deus. Se isso tem sido inventado pelo pensamento, segue dentro do campo do tempo, (…) do material. (Tradición y Revolución, pág. 291)
Krishnamurti: Porém ele pode inventar Deus devido a que não poder ir mais longe. O pensamento conhece suas limitações, por isso trata de inventar o ilimitado a que chama Deus. Essa é a situação. (Idem, pág. 291)
A vida é muito complexa, e a mente, mais complexa ainda e dotada de extraordinárias capacidades; (…). O centro que acumula é o “eu”, o “ego”, e, portanto, toda ação procedente desse centro poderá, apenas, aumentar o problema. A Realidade, Deus (…) deve ser algo totalmente novo, nunca dantes experimentado, completamente original; (…). (Percepção Criadora, pág. 42)
Entretanto, toda igreja, toda organização religiosa, toda seita está sempre a falar de Deus; e os que crêem em Deus têm visões que fortalecem a sua crença. Ora, o que podemos reconhecer é sempre coisa já conhecida e, portanto, não pode ser o verdadeiro. O que é verdadeiro nunca foi anteriormente conhecido e, por conseguinte, a mente deve compreendê-lo de maneira nova, como coisa nova; (…) (Idem, pág. 42-43)
(…) Afinal, o atemporal, a eternidade, o inefável é isto: quando a própria mente é o desconhecido. Por ora, a mente é o conhecido, resultado do tempo, de ontem, do saber, de experiências e crenças acumuladas, e, nesse estado, a mente jamais chegará a conhecer o desconhecido. (…) (Idem, pág. 44)
(…) Para o encontro com a vida, necessita se de vulnerabilidade e não da muralha respeitável da virtude, onde o “eu” se isola. O Supremo não pode ser atingido; não há caminho, (…) aperfeiçoamento (…) progressivo, para chegar se lá. A Verdade tem de vir, ninguém pode ir a ela, e a virtude cultivada não leva ninguém aonde ela está. O que se pode atingir não é a Verdade, mas o nosso próprio desejo, projetado; e é só na Verdade que se encontra a felicidade. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 31)
Senhores, Deus não é uma coisa que se pode adquirir como se adquire (…) uma virtude. É algo incomparável, atemporal, inimaginável, inefável: não podeis ir a Ele. Ele deve vir a vós, e tão somente quando o vosso espírito não mais está buscando. (…) Quando a mente já não compara, não adquire – só a essa mente que está tranqüila pode a Realidade manifestar-se; (…). Tereis (…) a mente que já não compara, já não adquire, a mente que ingressou num “estado de ser” – e nesse ser a Realidade penetra. (O Problema da Revolução Total, pág. 48)
Pergunta: Vós atingistes o real. Podeis dizer o que é Deus?
Krishnamurti: Como sabeis que atingi o real? Para sabê-lo, seria necessário que vós também o tivésseis alcançado. (…) Ora, por certo, meu atingimento da realidade nada tem que ver com o que estou dizendo, e o homem que venera outro homem, por ter esse outro alcançado a realidade, está, em verdade, rendendo culto à autoridade e, por conseguinte, nunca encontrará a verdade. (…) (A Primeira e Última Liberdade, pág. 257)
Desejais que eu vos diga o que é a realidade. Pode o indescritível ser posto em palavras? Pode-se medir o imensurável? (…) Se o formulais, é o real? Naturalmente que não, (…). No momento em que traduzis o incognoscível no conhecido, ele deixa de ser o incognoscível. Entretanto, é isso o que buscamos, (…) (Idem, pág. 258)
Conseqüentemente, em vez de perguntar quem atingiu o real ou o que é Deus, por que não aplicais toda a vossa atenção e vigilância ao que é? Encontrareis então o desconhecido, ou, melhor, ele virá ao vosso encontro. Se compreenderdes o que é conhecido, experimentareis aquele silêncio extraordinário, não provocado, não forçado, aquele vazio criador, no qual, e só nele, a realidade pode surgir. (…)
Vereis, pois, que a realidade não está longe; o desconhecido não está longe de nós; ele se acha em o que é. Assim como a solução de um problema se encontra no problema, assim também a realidade se encontra em o que é; se podemos compreendê-lo, conheceremos então a verdade. (Idem, pág. 259)
O que importa é que o indivíduo compreenda a si mesmo, e se ponha frente a frente consigo mesmo, com aquela pobreza que sempre evitamos, com aquele vazio a que todos nos furtamos. E quando compreendermos isso, quando o experimentarmos (…) – só então haverá uma possibilidade de passarmos além e de descobrirmos o que é a verdade, ou o que é Deus. (Nós Somos o Problema, pág. 34)
Procurando compreender o mundo exterior, chegaremos ao interior, e este, corretamente seguido e verdadeiramente compreendido, conduzirá ao Supremo. Essa realização não deriva da fuga e só ela proporcionará paz e ordem universal (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 106-107)
A Realidade, ou Deus, (…) não se alcança por meio de conflito. Pelo contrário, é imprescindível a extinção do “eu”, do centro de acumulação de conhecimentos, de virtude, de experiência (…). Só então, sem dúvida, é possível surgir aquele estado de Realidade. (A Renovação da Mente, pág. 25-26)
(…) Esta é a nossa vida: um vão processo de mentir, enganar, tentar tornar-nos algo importante, lutar para dominar, reprimir. E pensais que essa vida tem alguma relação com a Realidade, a Bondade, a Beleza, Deus, com algo que não é de procedência humana? Entretanto (…) queremos trazer para ela aquela Realidade e tratamos de freqüentar o templo, de ler livros sagrados, (…). Queremos trazer aquela imensidão, aquela imensurabilidade para dentro do “mensurável”. E tal coisa é possível? (O Homem Livre, pág. 182)
Vedes como a mente engana a si própria? Podeis trazer o desconhecido, aquilo que não pode ser experimentado, para dentro do “condicionado”, para o reino do conhecido? Claro que não. (…) O mais que podeis fazer é observar o funcionamento de vossa própria mente, que é o campo do conflito, da angústia, do sofrimento, da ambição, do preenchimento, da frustração. Isso vós podeis compreender, e suas estreitas fronteiras podem ser derrubadas. (…) Quereis “capturar” Deus e prendê-lo na gaiola do “conhecido” – a gaiola que chamais “o templo”, “o livro”, “o guru”, “o sistema”, e com isso vos satisfazeis. Assim agindo pensais que vos estais tornando muito religiosos. (…) (Idem, pág. 182)
Pode-se, pois, descobrir o que é criação, ou Deus (…)? (…) A criação liberta a mente da mediocridade e da deterioração. E se é este o estado que procuro, necessito de visão muito clara, a fim de não criar ilusão e de libertar a mente para o verdadeiro descobrir; o que significa que ela, a mente, deve achar-se totalmente tranqüila, para descobrir. Porque o estado criador não pode ser chamado; ele tem de vir por si. Deus não pode ser chamado: ele deve vir. Mas não virá se a mente não for livre. (…) (Poder e Realização, pág. 39-40)
Para mim há Deus, uma vivente, eterna realidade. Mas essa realidade não pode ser descrita; cada um precisa realizá-la por si. Quem quer que procure imaginar o que é Deus, (…) a verdade, apenas está procurando uma fuga, um abrigo da rotina diária do conflito. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 96)
Muitos dentre nós sentem que há uma vida verdadeira, algo de eterno, mas são tão raros os momentos em que sentimos isso, que esse algo de eterno se vai retraindo mais e mais e nos parecendo menos real. (Coletânea de Palestras, pág. 43-44)
Mas, para mim, há realidade; há uma realidade eterna e vivente à qual podeis chamar Deus, imortalidade, eternidade (…). Há alguma coisa viva, criadora, que não pode ser descrita, porque a realidade frustra toda descrição. (…) Não podeis saber o que seja amor pela descrição de outrem; para conhecerdes o amor é preciso que vós mesmos o experimenteis. (…) (Idem, pág. 44)
Digo-vos que não posso descrever, não posso exprimir em palavras essa vivente realidade que está além de toda idéia de progresso, (…) de crescimento. Cuidado com o homem que tenta descrever essa vivente realidade; ela não pode ser descrita, tem de ser experimentada, vivida. (Idem, pág. 44)
Para mim, existe uma realidade, uma verdade viva e imensa; e para compreendê-la é necessária absoluta simplicidade do pensamento. O que é simples é infinitamente sutil, o que é simples é extremamente delicado. (…) (A Luta do Homem, pág. 136)
Afirmo que existe essa realidade viva, chamai-a Deus, ou como quiserdes, e que ela não pode ser encontrada nem sentida pela busca. Tudo que implica busca, implica contraste e dualidade. (…) (Idem, pág. 137)
(…) Digo que existe uma realidade viva; chamai-a Deus, Verdade ou o que quiserdes, (…) – mas, para compreender isto, é preciso haver suprema inteligência e, portanto, não pode haver conformidade, (…) mas sim o exame ou a dúvida de todas as coisas, falsas e verdadeiras, nas quais a mente está presa. (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 15)
David Bohm: Contudo, penso que as pessoas achavam que Deus era uma base que não era indiferente à humanidade. Veja, elas podem tê-la inventado, mas era nisso que elas acreditavam (…)
Krishnamurti: (…) uma tremenda energia, possivelmente. (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 58)
Se uma vez houverdes entrado, houverdes respirado a frescura, a serenidade, a tranqüilidade desse Reino, então aquelas coisas que são reais, (…) o fôlego da vida (…) nunca poderão ser esquecidas. (…) Somente então é que podeis saber que não estais seguindo cegamente as pegadas de outrem; somente então é que estais seguindo o Absoluto, o Eterno. Somente então sereis uno com Aquele que tem o seu ser em todas as coisas. (…) (O Reino da Felicidade, pág. 83)